Tuesday, December 29, 2009

“Caiu o Sistema”

Há poucas décadas atrás, ninguém sabia do que se tratava essa queda. Era comum se falar em queda de raio, de chuva, de árvores, de pontes, mas de sistema, ninguém ouvira falar. Pior, ainda hoje, sabemos pouco a respeito dele. Ansiosos e angustiados esperamos que o sistema se restabeleça logo. Muitas vezes, a empresa nos informa, gentilmente, quando ele voltará. Quase ninguém tem interesse em saber se é um problema da empresa ou de um serviço utilizado por ela. Por outro lado, nenhuma organização deseja esclarecer o problema havido e assumir a responsabilidade por falha em seu sistema operacional. É melhor deixar a coisa no ar, como se fosse um “diabo ex-machina” da tragédia moderna que surge do nada para punir os usuários do sistema que caiu. Sempre pergunto às jovens atendentes de grandes empresas, como bancos e telefonia celular, por exemplo, se o sistema “caiu” devido a falhas internas. Elas atônitas me olham como se eu fosse um extraterrestre, e respondem como papagaios treinados: “o sistema caiu; nada podemos fazer enquanto ele não voltar”. Seria interessante que as agências governamentais, supervisoras de serviços de bancos, de empresas de telefonia celular, e outros de grande uso pela população, criassem indicadores de tempo de interrupção de seus sistemas operacionais, como já se adotam no setor de energia elétrica, a fim de o consumidor compará-los entre si antes de contratar seus serviços. Não sei se sou azarado, ou se realmente as empresas de telefonia celular possuem péssimos sistemas operacionais: sempre “caem” e mesmo quando estão funcionando, costumam interromper quando se está no meio de escolhas entre múltiplos caminhos, apertando número e mais número escolhidos em diversas séries que se sucedem, na esperança de se obter alguma orientação ou resposta gravada. O processo cansativo e tenso, muitas vezes não se completa, ou porque não identificamos o número correto, ou simplesmente porque se interrompe com o som de linha ocupada. A “via crucis” parece terminar quando finalmente ouvimos a frase salvadora (muitas empresas já eliminaram esse alívio): “aperte o número tal para falar com uma de nossas atendentes”. Nesse momento, a paranóia pode se desencadear em nossa mente com a nítida impressão que existe uma conspiração particular contra a gente: é quando, depois de muitos e muitos minutos de espera da voz humana, a ligação cai e temos de repetir todo o processo. Se as Agências reguladoras não conseguirem nos entender e nos ajudar, ainda resta a esperança que um “deus ex-machina” surja e afaste o “diabo” que perverteu nossos sistemas, deixando-os cair.

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