Sunday, April 12, 2020

Quarentena SIM ou NÃO


                         Quarentena -  Sim ou Não
                                                                                                                                               E. J. Daros
                   Infelizmente, políticos adeptos da velha filosofia religiosa maniqueísta continuam ocupando o poder e conseguem tumultuar o trabalho de profissionais que lutam na defesa de nossa saúde ameaçada pelo COVID-19 com a falsa opção: SIM ou NÃO, referindo-se à quarentena.
                            
                          A velocidade de contaminação deste novo coronavirus é tal que extrapola os recursos hospitalares disponíveis para tratamento. O que nos chama a atenção é que a luta contra o novo coronavírus em nosso País está concentrada somente nos setores de saúde das três esferas de governo, sendo encarregado da sua coordenação o médico ortopedista e ex-deputado federal, Luiz Mandetta, atual Ministro da Saúde.

                     A reduzida participação  de outros setores que dispõem de experiência e conhecimento para colaborar na redução dos custos dessa luta monumental é inacreditável. O mínimo que nós esperamos agora do governo é eficácia e eficiência no combate da pandemia que nos assola. Basta-nos lembrar da frustração generalizada da população brasileira com o desempenho de nossa economia e do alto nível de desemprego prevalecente, justamente no início da epidemia em nosso País para entender essa condição. Eficácia e eficiência é mais do que um desejo. É condição que se evitem sofrimentos futuros decorrentes de prejuízos estruturais econômicos, financeiros com reflexo negativo na já elevada taxa de desemprego.O lema infantil de pessoas alienadas que "não há custo que não possa ser pago por uma vida salva" não merece comentário. Portanto, buscar a integração de atividades de outros setores visando garantir mais eficácia e eficiência na luta contra a pandemia deve ser também um objetivo a ser perseguido

                  Pensando nesse assunto, fica-se impressionado, por exemplo, achar-se que o movimento humano em espaços públicos urbanos, forte gerador de contaminação, seja somente assunto de medicina. A própria quarentena em áreas urbanas, como freio ao crescimento acelerado da contaminação visando garantir tempo para a ampliação de leitos e serviços hospitalares compatíveis com a crescente demanda, também implica análise de alternativas com uso de matemática e de estatística aplicada. Infelizmente, tudo indica que até agora, não foram utilizados os recursos da logística amplamente aplicada em construção, montagens e compras em geral.

                            Amenizar os  efeitos negativos no nível de emprego e nas atividades de produção, comércio e consumo é um objetivo secundário, porém muito importante. Um exemplo típico de ineficácia é a ausência do serviço público de fiscalização do respeito às regras impostas pela quarentena; na India se utiliza o chicote; na Europa, multa-se e prende-se; e, no Brasil, filmam-se os desobedientes! A prisão domiciliar preventiva com uso de tornozeleira serve como uma luva em nosso País. Em São Paulo, o Governador Dória continua ameaçando usar formas coercitivas.

                              Os brasileiros, que não conseguem entender a importância da quarentena que envolve matemática, estatística e avaliação de cenários de probabilidade, estressados pelo desemprego e perdas de toda ordem dela decorrentes, dividiram-se em vários grupos. Os que não gostam da quarentena, mas têm consciência que sem sucesso dela estaremos repetindo o ciclo desesperador da Itália e por isso a toleram; os que nunca a aceitaram e continuam circulando nas vias públicas a pé e de automóvel, por interesses e razões diversas. E, finalmente, o grupo político liderado pelo Presidente que desrespeita em suas andanças em Brasília as normas que ele mesmo aprovou.  
   
                       É surpreendente o silêncio que prevalece na mídia sobre a possibilidade de se produzirem no Brasil máscaras, luvas, aparelhos de teste, respiradores, desinfetantes gerais e álcool-70 e outros produtos essenciais de uso hospitalar, seja para reduzir preços e especulações, ou para evitar custos e atrasos frequentes nas importações. Não se tem notícias sobre entidades de saúde ou dos setores industrial, de engenharia de produção e de centros de pesquisas de universidades, avaliando possibilidades de colaboração. É possível que melhor coordenação e integração desses setores possam ajudar a fornecer o que se necessita. Tomei conhecimento, por exemplo, que uma unidade “StartUp” em Curitiba vai produzir testadores e que pesquisa realizada na Escola Politécnica da USP já possui um protótipo de respirador.                                            
                                      O objetivo deste texto é chamar a atenção e mostrar que, nesta luta, estamos necessitando de outras atividades e setores complementares ao da saúde que possam colaborar na luta contra o CODI-19. A situação de doentes morrerem por falta de respiradores ou o número de contaminados aumentar por ausência de fiscalização, de testadores e de monitoramento, são exemplos de situações inaceitáveis. Pior ainda, médicos, enfermeiros, enfermeiras, e demais pessoas que estão na frente da batalha em contato direto com os contaminados, sem a proteção adequada, correndo o risco de se contaminar e até mesmo falecer.
                                      Não se trata de uma guerra entre inimigos. Mas de ações ou omissões de nós seres humanos. Na China foram os detentores do poder estatal que, por razões desconhecidas,  não reconheceram o alerta de cientista que identificou o vírus e, posteriormente, morreu em decorrência de sua contaminação. Confirmado o alerta, porém, as autoridades omissas, apavoradas com a rapidez da contaminação e das mortes causadas, agiram com rigor, respaldando as ações necessárias propostas pelos cientistas que então conseguiram controlar a crise na China. De exportadora do vírus, passa agora a se defender de eventual importação desse mesmo vírus com medidas severas de controle de entrada no país, pois ainda não se tem uma vacina específica que evite novas crises. A ordem atualmente é manter-se em guarda.
                                    Da China, o vírus se espalhou celeremente por todo o mundo, tornando o ser humano, esteja onde estiver em nosso planeta, em potencial vítima de contaminação. Contudo, a nossa sobrevivência, novamente, está ligada à eficácia das medidas adotadas pelo poder estatal no local em que habitamos.  Não obstante a triste consequência da omissão havida na China cujas autoridades ignoraram o cientista que a teria evitado, agora, alguns poderosos nos novos países e regiões afetados repetiram o erro. Muitos, porém, agiram com rapidez, buscando reduzir os danos com a quarentena que lhes permitiu ampliar a capacidade hospitalar e reduzir substancialmente o número de mortes. A Alemanha, até por sua grande capacidade hospitalar inicial, expandiu-a e conseguiu controlar a crise, apresentando um índice baixo de mortos em relação a sua população. Ao contrário, outros países europeus e os Estados Unidos que desprezaram a rapidez da propagação da contaminação e tentaram buscar soluções menos radicais como a quarentena sofreram e, ainda estão sofrendo com o elevado número de contaminados e mortos.
                                       No início, Presidente Trump  não poupava palavras para afirmar que os Estados Unidos estavam preparados a enfrentar a presença do vírus. Poderoso, mas atento ao que estava acontecendo, especialmente no Estado de Nova Iorque cujo Governador foi reticente e lutou contra a quarentena rigorosa mas acabou aceitando-a posteriormente. Nos Estados Unidos em que o poder dos Estados frente ao Governo Federal é bem maior que aqui no Brasil torna-se difícil impor medidas severas em todo seu território. Nesse país, uma de suas principais características, a alta mobilidade da população, favorece a contaminação.  Sua grande diferença em relação ao Brasil é a extraordinária disponibilidade de recursos e capacidade técnica de atender a demanda crescente  de serviços hospitalares rapidamente e de meios alternativos para contornar dificuldades encontradas.. Outro exemplo de reação tardia aconteceu no norte da Itália. Lá, dois agravantes tornaram a crise italiana uma verdadeira tragédia para uma população de 60 milhões de habitantes vivendo em território menor que o Estado de São Paulo: capacidade hospitalar pequena e população idosa expressiva. Esses dois países ocupam os primeiros lugares em número de mortos. acima da China
                                     Nosso país caminha para uma situação difícil de ser prevista como o que está acontecendo indica. É necessário que cada um de nós, razoavelmente saudáveis e lúcidos, não só respeitemos as normas de quarentena, como busquemos apoiar com o conhecimento e o poder que dispomos para que a quarentena não seja desrespeitada acintosamente como tem ocorrido. E, ainda, que não entremos no jogo político de nosso Presidente. A luta contra o COVID-19 é vital, prioritária e deve continuar com afinco e capacidade para se reduzir ao mínimo possível as suas consequências nefastas que já são enormes e poderão ser piores ainda. Quanto mais eficiente e eficaz for nosso trabalho em menos tempo estaremos preparados para conviver com esse danoso vírus até que a almejada vacina nos traga a desejada tranquilidade. 
                                  Nossas recomendações finais de leigo no assunto após constatar a necessidade urgente do Ministério da Saúde acionar outros ministérios para indicarem profissionais competentes e, acima de tudo experientes, são de que o Ministro de Economia designe o IPEA, afeito a estudos macroeconômicos e conhecedores das áreas que garantem a estabilidade e o crescimento da economia brasileira para monitorar projetos de quarentena e de proibição de circulação a fim de evitar danos ao produto e a renda, alertando e participando de soluções e busca de alternativas que garantam o mínimo de perdas no combate ao CODI-19 à economia. Além disso solicitar profissionais especialistas e experientes em operação de trânsito urbano e interurbano para proporem medidas para se garantir o cumprimento de normas da quarentena, bem como de todas as medidas relativas à proibição e facilitação de trânsito em rodovias e em vias públicas urbanas. Finalmente, apelar a entidades privadas interessadas em reduzir ao mínimo possível os danos à organização e estruturação da economia brasileira que participem financeiramente na contratação de consultores de alto nível, brasileiros ou estrangeiros, experientes neste trabalho de luta contra o CODI-19. Atendendo, obviamente, solicitações do Ministério de Saúde, responsável pela Coordenação das atividades de combate ao CODI-19 a nível federal.
                                                       FIM