Sunday, November 23, 2008

Lula-aqui, Evo-ali, Obama-lá
O artigo acima de Augusto Franco (Folha, 17/11) compara as eleições de Lula e de outros líderes latino-americanos com a de Obama nos Estado Unidos da América. Esqueceu-se, porém, de ressaltar que este se apresentou como um cidadão inteligente e de excelente formação cultural e acadêmica capaz de liderar os EUA conforme os anseios e desejos dos membros do Partido Democrático que o escolheu como seu candidato. Hillary Clinton, sua adversária na eleição de escolha do candidato, também era altamente qualificada. É de se ressaltar que nenhuma das duas candidaturas, porém, surgiu como reação de mágoa ou de desprezo à elite norte-americana. Obama é filho de mãe branca, com determinante influência dela, e de sua avó materna que lhe deu carinho e transferiu-lhe valores para sua formação saudável. Sem marcas e cicatrizes de agressões e ódios que estimulam a mágoa, a vingança e a confrontação, Obama conseguiu com seus próprios méritos galgar posição socioeconômica invejável na sociedade americana. Em outras palavras, Obama comunga os valores históricos e mais profundos de seu País com a elite americana, vive em seu meio e atua politicamente no velho Partido Democrático. O seu foco é a busca de soluções democráticas para os problemas sociais, econômicos e culturais das camadas mais pobres, entre as quais se encontram os negros, os hispânicos e outras minorias que ainda não conseguiram usufruir, como ele, das oportunidades oferecidas em seu País. É óbvio que a herança genética de seu pai negro, nascido no Quênia, tornou-o mais bem aceito pelos americanos carentes. E para os negros, ele tornou-se o símbolo de que a igualdade conseguida a duras penas em meados do século passado agora se completa com chave de ouro. A democracia americana, que já era forte, torna-se mais robusta ainda com a eleição de Obama

Saturday, November 22, 2008

SEGUNDA LÍNGUA

O povo brasileiro, numa atitude sábia e pragmática, elegeu o inglês como segunda língua. Infelizmente, a falta de recursos torna muito difícil às escolas públicas proporcionar aos mais pobres a oportunidade de aprender a falar, ler e escrever bem essa língua, como já conseguem os grupos sociais de renda mais alta. Se já não lhes bastasse a luta que enfrentam para reaprender a falar e a se comunicar corretamente em português, corrigindo os vícios de linguagem trazidos do lar, terão de aceitar a situação de apenas “arranhar” o inglês; e por isso, perder renda e posições no competitivo mercado de trabalho. O decantado treinamento em informática e o acesso à internet têm de ser acompanhado pelo ensino da língua inglesa, caso contrário seus resultados serão pífios. Aos que pensam como nós, sugerimos que se manifestem a respeito para que a nossa elite política não apóie iniciativas de ensino de outras línguas estrangeiras, dispersando esforços, tempo e recursos que estariam melhor empregados no aprendizado do inglês. Afinal, o ensino fundamental gratuito e de boa qualidade é o principal instrumento público destinado a corrigir as desigualdades socioeconômicas.

Publicada em Cartas do Leitor no Estadão de 28/03/01

Friday, November 07, 2008

TEMPO LIVRE VALIOSO
O rápido desenvolvimento e aplicação de tecnologias de informação na medicina curativa e preventiva tem-nos permitido melhorar as condições de preservação da saúde e da vida. Contudo, essas tecnologias, infelizmente, têm-nas prejudicado, também.

O tempo livre que hoje desfrutamos foi-nos legado por meio de experiências e conhecimentos úteis à nossa sobrevivência, consolidados em centenas de anos de trabalho e sofrimento de nossos antepassados. As milhares de horas desperdiçadas em jogos eletrônicos, em atividades fúteis no celular e na internet, bem como assistindo a programas e filmes que embrutecem o ser humano têm sido o uso que fazemos dele. Para piorar, o sedentarismo inerente a essas atividades é acompanhado pela ingestão de produtos nocivos à saúde. Tudo isso acontece com mais intensidade no período de vida favorável à educação que, segundo especialistas na fisiologia do cérebro, vai até os 25 anos.

Resta-nos, contudo, a esperança de que o livre arbítrio que ainda nos resta sirva para libertar-nos dessa armadilha criada por interesses comerciais apoiados em modernas tecnologias de informação e comunicação. Temos de estar atentos, porém, a outra armadilha. A de alienarmo-nos de nós mesmos e de nosso meio, copiando atitudes e preferências de “socialites” e políticos obtusos que impregnam nossa mídia com seus visuais e pensamentos estapafúrdios.

Ao afirmarmos que tudo que fazemos é importante, estamos afirmando, em outras palavras, que nada daquilo que deixamos de fazer por falta de tempo é mais importante do que já fazemos. É preciso que tomemos consciência desse raciocínio absurdo e abramos nossos próprios olhos sempre que nos perdermos na selva de opções em que vivemos. Devemos dar muito valor ao tempo livre, utilizando-o com muito respeito a nós e ao próximo. E acima de tudo, usando-o bastante para pensar sobre nossa vida e destino. Daros

Wednesday, November 05, 2008

DISPUTA ENTRE PÚBLICO E PRIVADO

É de estarrecer que altas autoridades do executivo estejam preocupadas com o fato do Banco do Brasil cair para o segundo lugar em valor dos ativos após a fusão do Itaú com o Unibanco assegurar-lhes o primeiro posto. É inacreditável o que se lê na Reportagem da Folha de S. Paulo (04/11/08): “ Governo Lula quer que o Banco do Brasil retome a liderança”; “A liderança (do BB) no ranking de bancos do país é simbólica para o PT”; “O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva não gostou de ver o BB perder o posto...” ; “O importante, avaliam os técnicos do governo, é que "agora o BB está no jogo".
Em plena crise, o Governo Federal transforma um evento positivo no mercado financeiro brasileiro em corrida entre os setores Público e Privado.
Concluo da leitura da reportagem que o piloto do PT, Lula, dirigindo o BB, lamenta ter perdido a primeira posição para Setúbal que conduz a nova máquina Itaú-Unibanco; mas está seguro que vai retomar a liderança em breve pisando firme no novo acelerador MP 443. Daros
PS Publicado no Painel do Leitor da Folha de São Paulo de 06/11/08

Sunday, October 19, 2008

MARTA E A SEXUALIDADE -II

Como sempre, as manifestações de nosso Presidente Lula são espontâneas e revelam a qualquer um suas idéias e preconceitos. Ao defender a candidata Marta Suplicy, as seguintes frases merecem destaques: a) "quando todos nós tínhamos preconceito"... b) " uma pergunta difamatória " .. Ou seja, agora que não tem mais preconceito, considera, por comparação com o que perguntam também para êle, que a pergunta feita à Kassab é difamatória. Leia o trecho abaixo e chegue a sua própria conclusão. Daros

"Temos que ter claro que essa mulher tem sido nesses últimos anos vítima de um preconceito raivoso e rançoso aqui na cidade de São Paulo", discursou Lula, para quem a elite considera "imperdoável" que ela tenha construído CEUs (Centro Educacional Unificado) na periferia e não em bairros ricos."Tem um bando de gente, uma minoria, mas influente, que não aceita que pelo teus próprios méritos você tenha as mesmas coisas que ela."Sobre a propaganda da campanha petista que pergunta se Kassab é casado ou tem filhos, Lula saiu em defesa de Marta."Tentaram passar a idéia de que essa mulher tem preconceito contra homossexualismo. Exatamente essa mulher que quando todos nós tínhamos preconceito ela já estava na TV Mulher [na TV Globo, nos anos 80] defendendo as minorias."Ele ironizou a repercussão do caso. "Ah, meu Deus do céu, se a imprensa me defendesse cada vez que fazem uma pergunta difamatória para mim. Ah, se ela me defendesse cada vez que alguém me pergunta: "Ô Lula, sabes falar inglês? Então não podes governar o Brasil". Ou "És casado, tens filho?" Ora, quem é que já não recebeu essa pergunta? Ainda vou criar o "dia da hipocrisia" neste país".

Fonte: Em RANIER BRAGON-em São Paulo e NANCY DUTRA-Colaboração para a Folha de São Paulo - Domingo - 19/10/2008

Wednesday, October 15, 2008

MARTA E A SEXUALIDADE

Todos nós temos muito interesse em nossa sexualidade e na dos outros, especialmente na adolescência. A maioria amadurece e passa a se interessar por outras coisas, também. O Brasil, por tradição cultural, sempre preservou a liberdade de escolha em matéria sexual, condenando, por exemplo, somente abusos como pedofilia e estupro e caçoando do homossexualismo por meio de piadas. A tolerância, em alguns casos, chega a ser exagerada, muitas vezes por ignorância. Não é por acaso que políticos famosos chegaram a produzir frases como: “estupra, mas não mata" ou, diante de falhas nos aeroportos brasileiros que causaram sérios danos físicos e morais a seus usuários, recomendou-se “relaxa e goza”’. A violência é tolerada e associada ao sexo nas duas frases, ainda que de forma velada na segunda.

Marta Suplicy amadureceu, conforme suas próprias palavras, e, segundo nossa modesta observação à distância, sublimou sua eventual curiosidade ao se tornar psicóloga e pesquisadora no campo das práticas sexuais humanas. E, como política, posicionou-se como líder de minorias que fogem do padrão Marido-e-Esposa-com-Filhos, em que as atividades sexuais do casal ficariam circunscritas a eles e somente a eles, e os filhos seriam o resultado natural do casamento monogâmico. Como eleitores, portanto, gostaríamos que a candidata Marta Suplicy nos dissesse com clareza a razão de considerar relevante que saibamos se o seu adversário Kassab é casado e tem filhos. A resposta deste foi de que não é homossexual e que muitas mulheres gostariam de se casar com ele.

Não é difícil para nós brasileiros desvendarmos os objetivos políticos da pergunta a partir da resposta dada. É óbvio que Marta conhece a vida particular de Kassab e fez essa pergunta para tirar-lhe votos. E é também óbvio que ele descobriu sua intenção e respondeu-a para não perdê-los. Não existe nenhuma restrição legal que homossexual ou heterossexual, solteiro ou casado, com filhos ou sem filhos, até mesmo fora do casamento, ocupem cargo público, desde que não tenham praticado atos criminosos regulados por lei. E mais: a transgressão de leis, inclusive no campo da sexualidade, tem sido praticada por políticos casados e com filhos. Não são poucos os que se encontram nessas condições e continuam impunes. A explicação para a pergunta de Marta está contida na cabeça de eleitores ignorantes e pré-conceituosos, particularmente no meio inculto.

Não devemos esquecer a tradição cultural da população ignorante, muitas vezes orientada por religiosos fanáticos que consideram o homossexualismo um desvio que impede a pessoa de ser equilibrada, competente e honesta. E isso acontece quase sempre em grotões eleitorais em que os homens se dividem entre machões – incluídos aí os que praticam o homossexualismo ativo – e os homossexuais. Nesta última categoria, somente são considerados os chamados passivos, normalmente conhecidos como efeminados. Basta uma caminhada pela cidade, principalmente em áreas deterioradas física, social e culturalmente, para se cruzar com homens desequilibrados mentalmente, andando com trejeitos de mulheres e sendo objetos de gracejos e agressões de toda espécie.

Marta Suplicy, que chegou a ser aceita como candidata à psicanalista no Instituto de Psicanálise da conceituada Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, deveria utilizar seu conhecimento profissional e sua posição política de vanguarda junto ao Grupo de Gays, Lésbicas e Simpatizantes - GLS para ajudar o desenvolvimento de nosso povo e não utilizá-lo em sua vertente mais retrógrada. Não nos iludamos. Mesmo nesses grotões atrasados, a cultura está chegando e mudando hábitos e costumes rapidamente. Os poucos votos daqueles que acreditarem na insinuação de Marta, e, por isso, deixarem de votar em Kassab, serão ultrapassados pelos que a repudiarão por essa atitude. Não adiantará dizer-lhes “relaxa e goza porque depois das eleições voltarei a ser profissionalmente coerente“ e que “em política somente há vencedor e perdedor”. Isso é verdade, sim. Porém, há atitudes e erros imperdoáveis que podem acabar com a carreira política de quem os comete. Lula já disse na Espanha, como é de seu estilo, que não podia opinar sobre o assunto porque não conhece o teor da propaganda de Marta. E ela, o que dirá? Esperamos que não entre no caminho pedregoso e perigoso do “voyeurismo” sexual a ponto de estimular alguns simpatizantes seus (“aloprados”), a seguirem e perseguirem Kassab, espionando suas atividades e preferências sexuais. Daros

Friday, September 26, 2008

ALGUNS PENSAMENTOS SOBRE TRABALHO E DISCUSSÃO EM GRUPO

O trabalho ou discussão em grupo não é um jogo de soma zero, em que um debatedor somente ganha, se o outro perde. Ao contrário, deve-se buscar a sinergia que garante que o resultado do trabalho em grupo seja maior e melhor do que a soma de trabalhos individuais;

A discussão em grupo deve se limitar às idéias e propostas feitas e às premissas e razões que lhes dão sustentação. Não é lugar para simpatias, solidariedade e competição. Seja meu amigo, pessoa de minha simpatia ou pessoa frágil, se sua idéia ou proposta não é sustentável deve ser rebatida e rejeitada, educadamente. Se a idéia ou proposta de alguém é melhor do que a minha, seja quem for o participante, devo apoiá-la com base em meu raciocínio e não em minha simpatia.;

O silêncio somente deve ser rompido se realmente tem-se algo importante a dizer. Falar demais, para se manter em evidência, destrói a sinergia do grupo e, ao final, todos perdem com resultados pífios. O que importa é o resultado do trabalho em grupo e não o brilho de cada um;

Jamais se deve avaliar a personalidade, traços de caráter ou outros aspectos pessoais do interlocutor, seja para desmoralizá-lo, seja para exaltá-lo, quando se está trabalhando em grupo. O que importa são suas idéias e propostas que devem ser examinadas à luz da razão e dos conhecimentos dele e dos demais membros do grupo e não das características individuais de cada um. Caso se constate que alguém demonstra incapacidade ou desequilíbrio emocional para trabalho em grupo, agredindo as pessoas com ironias, sarcasmos ou ofensas, a única maneira de não se envolver em conflitos pessoais é simplesmente CALAR-SE, negando-se a participar em grupos do qual essa pessoa venha a fazer parte no futuro. Se a ofensa for grande, PEDIR LICENÇA E SE RETIRAR DO GRUPO POLIDAMENTE;

Ouvir é muito mais difícil do que falar, daí Deus ter-nos proporcionado dois ouvidos e uma só boca. Muita gente ouve, mas não escuta, pois está mais preocupada com seus próprios pensamentos e naquilo que vai dizer do que na fala do interlocutor. Não fique ansioso em aparecer e mostrar sua presença no grupo. Se não tiver nada a dizer é melhor ficar calado. O que importa é o resultado do trabalho no grupo e não o seu brilho e participação na discussão. Sempre que gostar de uma idéia ou proposta ao acrescentar algo repita seu conteúdo inicial para demonstrar que não se preocupa em ser seu autor e sim em aprimorá-la para conseguir melhores resultados para o trabalho em grupo;

Procure nunca levantar a voz. Tampouco, interromper alguém abruptamente. Se alguém o fizer, diga-lhe: " POR FAVOR, DEIXE-ME COMPLETAR O QUE QUERO DIZER". Se desejar interromper alguém, somente o faça se for algo muito importante, cuidando para somente fazê-lo após pedir licença ao interlocutor: " DÁ LICENÇA DE EU INTERROMPE-LO UM INSTANTE?" Normalmente o interlocutor ou deixa a pessoa falar, e essa deve se limitar a uma ou duas frases , ou responderá que se aguarde um pouco até que termine o que está falando. FALAR AO MESMO TEMPO É DESVALORIZAR SUAS IDÉIAS. LEVANTAR A VOZ É PIOR AINDA: É SUBSTITUIR O CONTEÚDO DE SEUS ARGUMENTOS POR EXPANSÃO DE ONDAS SONORAS E DECIBEIS NOS OUVIDOS DOS MEMBROS DO GRUPO;

Olhe para o interlocutor somente com a preocupação de entender o conteúdo de sua fala, pedindo-lhe ao final esclarecimentos se não entendeu a fim de não emitir juízos baseados em compreensão errada. Para evitar isso, sempre é bom repetir o que entendeu antes de emitir sua opinião a respeito, dando nova oportunidade ao interlocutor de corrigir seu pensamento. Se alguém lhe pergunta algo que não entendeu bem, ou quer mais tempo para pensar, peça ao interlocutor para repetir a pergunta, para que a entenda bem;

O senso de humor deve sempre estar presente em qualquer discussão, evitando-se, porém, chistes, piadas ou observações que possam ofender qualquer membro do grupo. Evitar-se, portanto, sectarismos, sejam eles religiosos, filosóficos ou políticos, raciais e de outros matizes (baixinhos, gordos, magros, etc..);

Olhar com descontração e simpatia para todos. Afinal, são membros de um grupo que corresponde a x/ 6,5 bilhões da população mundial em busca de boas idéias e propostas para melhorar a qualidade de vida de todos;

Respirar fundo algumas vezes ajuda a tranqüilizar as emoções e abrir mais espaço para o uso da razão;

Algumas recomendações aos organizadores de grupos de discussão: a. mantenha o número de participantes entre 5 e 7; abaixo de 5 é muito pouco e acima de 7 é demais; b. procure estruturar o grupo com pessoas de níveis de conhecimento e experiências semelhantes e ajustados ao assunto a ser discutido; c. estabeleça um intervalo de dois módulos de 50 minutos cada um com intervalo de 10 minutos para levantar-se e conversar-se livremente, servindo alguma coisa para comer e beber. Reserve 10 minutos no final para decidir se haverá ou não nova reunião. Pela manhã o intervalo entre 9:30 e 11:30 e pela tarde entre 14:30 e 16:30 seriam ideais. d. quem convocou a reunião tem como dever ser o moderador das intervenções e o responsável pela redação de ata ou outros documentos, podendo delegar a algum membro do grupo disposto a assumir essas tarefas; e. estabelecer já na convocação da reunião que os celulares terão de estar desligados durante as discussões.

BOA SORTE!
PS Resolvi divulgar este texto que elaborei faz muito tempo, porque ainda penso que poderá ser útil para quem participa em discussões em grupo. Daros

Sunday, September 21, 2008

DOSSIEGATE E RIOCENTRO

O que têm de comum os dois crimes? O fato dos mandatários não terem atingido os objetivos previstos pelos seus mandantes. No primeiro caso, em plena vigência da democracia, os dois petistas que estavam com R$ 1,7 milhão de reais para comprar um dossiê contra Serra, foram surpreendidos em flagrante pela polícia; e, no segundo, praticado durante o regime militar, a bomba estourou antecipadamente no colo de um dos militares, dentro de carro estacionado, antes de ser colocada no Pavilhão onde se comemorava o primeiro de maio. Julgou-se que não houve crime porque o juiz, segundo reportagem da Folha de São Paulo (21/09) “entendeu que não era possível vincular o dinheiro apreendido à campanha eleitoral, e concluiu que o principal prejudicado com o dossiegate foi Lula”. O caso da bomba todos sabem como terminou. “Os aloprados foram punidos pela própria bomba e o principal prejudicado com isso foi o Presidente Figueiredo” teria dito o mesmo juiz se lhe fosse submetido esse crime, também, para julgamento, penso eu! Será verdade que para a Justiça Brasileira não é crime ter-se R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo de origem não revelada para comprar um dossiê contra candidato a governador ou levar uma bomba para ser ativada em local de grande concentração de pessoas? Daros

Nota: entre a última postagem (dia 8) e a de hoje (dia 21) decorreram 13 dias o que descaracteriza o Blog como registro diário. Assim sendo, vou publicar também cartas que costumo enviar aos jornais e que normalmente não são divulgadas, principalmente devido sua extensão ultrapassar os limites impostos pelos jornais a seus leitores. A carta acima foi enviada à Folha de São Paulo.

Monday, September 08, 2008

IMPREVISTOS AGRADÁVEIS

Desenvolvi, faz muitos anos, algumas regras que me poupam de frustrações e sentimentos de indignação e, até mesmo, de ira. Um pouco de YOGA e muita psicanálise me ajudaram nisso. Uma das regras é não criar expectativas fora da realidade. Ao contrário, ser um pouco pessimista. Dessa forma, aumento a probabilidade de ter mais alegrias e menos frustrações. Por exemplo, após um exame médico acompanhado de análises laboratoriais, penso que se algo ruím for detectado, o resultado simplesmente retrata um estado real existente antes do exame. Em outras palavras, ele traz à tona dados e informações de alguma doença escondida que agora poderá ser combatida com mais eficácia. Outro exemplo: se vou receber resposta à alguma solicitação que me traga benefícios, avalio o mais objetivamente possível a situação, de maneira a não criar expectativas irrealizáveis e aceitar a influência negativa de fatores imponderáveis. Na Cidade de São Paulo procuro evitar o estresse de dirigir em ambiente agressivo e cansativo, transformando o congestionamento em oportunidade de ouvir rádio ou música. E as dificuldades em estacionar próximo a meu destino, como oportunidade de caminhar e exercitar-me. Se o tempo é curto, prevejo que vou chegar atrasado ao encontro ou reunião, avisando com antecedência a pessoa ou pessoas com quem tenho compromisso. Sair bem mais cedo e usar o tempo de espera nos encontros para leitura de algo interessante é a saída mais educada. Essa, contudo, ainda não consegui por em prática rotineiramente. Hoje fui surpreendido por três situações imprevistas agradáveis

Dirigi-me ao setor financeiro da Prefeitura Municipal para regularizar uma situação que criei por descuido. Ao invés de pagar a parcela do IPTU vencida no mês, paguei duas vezes a do mês anterior. Conseqüentemente, a parcela paga duas vezes apareceu como "paga" simplesmente e a outra como "não paga". Como o imóvel está no nome de minha esposa, dirigi-me à repartição para que eu fosse orientado sobre como resolver o assunto, já que perdera o registro bancário que provaria que paguei duas vezes a primeira parcela. Já estava preparado para um rol de pedidos de documentos e declarações registrados em cartório quando o funcionário me surpreendeu com a seguinte frase: "vou evitar que o senhor tenha de voltar aqui novamente". Somente pediu-me o RG para anotar no recibo da parcela "não paga" que se tornaria "paga" com o estorno dos recursos sobrantes da primeira parcela paga duplamente. Aí surge um problema inesperado. Minha carteira não estava comigo. Fiquei atônito procurando-a, não mais para mostrar-lhe o RG mas para me assegurar que não a perdera. No meio da confusão criada, ele perguntou simplesmento meu nome e o número do RG e entregou-me uma senha para pegar o recibo da parcela agora "paga" em outro guichê. Resolvi rapida e inesperadamente o assunto que fora pedir simples orientação para outro dia voltar com um saco de documentos. Agora, tentava me concentrar para explicar o fato de não ter a carteira comigo. Finalmente, concluí com segurança razoável - já que a absoluta somente nos cria expectativas que podem ser frustradas - que a carteira ficara no carro. Vem-me à mente, porém, que se lá ficou o manobrista do estacionamento já a afanara. Quanto apresento a papeleta do estacionamento afirmo que irei pegar o dinheiro em minha carteira que se encontra no carro. Depois de verificar várias vezes e não encontrá-la, olho desconfiado para o manobrista e identifico um inocente que me encara. Procuro-a novamente e a encontro entre os dois bancos dianteiros.

No fim da tarde vou pegar uma máquina fotográfica digital que minha filha esquecera numa lanchonete. Faz quinze dias que a recepcionista afirma que vai entregá-la e sempre posterga a devolução. Como sempre, muito desconfiado, porém preparado para um ato inusitado em nosso País, entrego à minha filha uma velha digital em completo desuso para dar-lhe em retribuição à sua honestidade. Estou preparado para dois eventos: o frustrante, em que ela simplesmente diria que a máquina estava com ela para ser entregue e, infelizmente, fora roubada; ou ela devolver a câmera e "agarrar" a retribuição por sua honestidade. Como minha filha estava demorando, quase tinha certeza que a primeira hipótese seria a verdadeira. Depois de algum tempo, lá aparece ela sorrindo com a máquina devolvida em suas mãos. Explicou-me a demora: "a moça não queria receber de jeito nenhum nosso presente. Tive que insistir, e muito, para que ela aceitasse. O único pedido seu é que enviássemos a ela duas fotos que tirara com o namorado e que se encontram no arquivo da máquina devolvida! "Daros

Saturday, September 06, 2008

VENDA DE VEÍCULO E MULTAS
Há alguns anos atrás fui surpreendido com o fato de que na venda de veículos o reconhecimento de firma deveria ser por "autenticidade" , isto é, você e a pessoa envolvidos na transação têm necessariamente de estar presentes no cartório para ter as assinaturas reconhecidas. Depois de vender um Ford Rural a uma senhora cearense e ter assinado o CRV fui surpreendido, no dia seguinte, com sua solicitação para comparecer urgente ao Cartório e reconhecer minha assinatura já que ela estava de passagem marcada para Fortaleza dali a algumas horas. Sem estar presente minha firma não seria reconhecida por autenticidade.

No início de agosto passado, vendi um carro e já sabendo disso compareci com o comprador no cartório e assinamos o documento CRV - Certificado de Registro de Veículos na frente do tabelião. Sem mesmo pedir, ele me forneceu ( e cobrou..) uma cópia autenticada do CRV de transferência preenchido para que eu a enviasse ao DETRAN. Preocupado com eventuais multas de infrações cometidas após a venda elaborara, por minha conta, uma Declaração assinada por mim e pelo comprador que ambos assumiam o compromisso de pagar as multas pelas infrações incorridas antes da venda - no caso eu - e depois da venda - ele, comprador. Preocupei-me de colocar a hora nessa deckaração, já que tanto eu como ele poderíamos ter cometido infração nesse dia, pois no CRV consta simplesmente que o vendedor se exime de responsabilidade "a partir da data acima", ou seja, a partir do dia seguinte da venda. No próprio dia o comprador, se for meu inimigo, pode praticar infrações de todo tipo que eu serei o responsável por elas. Em nota com letras miúdas está escrito que cabe ao comprador fazer "a imediata transferência de registro do veículo para seu nome" . Por outro lado, afirma que essa mesma transferência "poderá ser comunicada pelo vendedor". Atarefado como sempre, não me preocupei em comunicar a transferência ao DETRAN. Em menos de quinze dias recebi três notificações de multas, com meu nome nelas. Achei que bastaria devolvê-las ao DETRAN junto com a cópia de autorização de transferência do CRV que recebera do Tabelião. Já no DETRAN me informaram que teria de fazer a entrega no protocolo. Ali me orientaram que para protocolar deveria me dirigir a informações no primeiro andar do prédio da frente para solicitar duas vias das guias de encaminhamento da comunicação da venda e preenche-las. Fui e peguei as duas vias cujo título é Sistema de Comunicação de Venda de Veículos. Eram umas vinte e cinco perguntas sobre mim, o veículo e o vendedor, quase todas constantes da cópia do CRV que não foi aceito sem esse documento de encaminhamento. As perguntas que não constavam do CRV, relativas ao veículo e ao vendedor, não pude responde-las, obviamente. Por exemplo, o número do Chassi e o bairro e CEP do comprador. Como as duas guias são iguais e não havia papel carbono entre elas, tive de copiar tudo de novo na segunda guia. Voltei ao protocolo para entregar a cópia do CRV, agora com as guias de encaminhamento. Já eram 16:30 e o expediente se encerra às 17:00 horas. Lá chegando, fui surpreendido por mais uma exigência: xerox do meu RG. Tive de sair quase correndo, pois o único xerox é do dono de uma banca de jornal que fica em frente ao DSV. Esse serviço existe alí faz muitas décadas. A fila era grande; então resolvi usar meu direito de furar fila por ser idoso e tirei o xerox na frente de todo mundo. Finalmente, retornei ao protocolo pouco antes das 17:00 e recebi a segunda via da guia de encaminhamento carimbada. Retornei em seguida para saber se isso me eximiria de pagar as multas que vieram em meu nome, porém resultantes de infrações cometidas após a data da venda do veículo. A atendente me respondeu: " todas as multas resultantes de infrações cometidas após a data de hoje o senhor não terá obrigação de pagar."....."Haja coração", pensei eu. Saí sem insistir no fato de que no CRV consta claramente que o vendedor se exime de responsabilidade por infrações cometidas após a data da venda e não como a atendente me informou. Registro aqui em meu BLOG esta chatice toda porque nossa população sem curso superior e pós-graduação como eu, jamais teria o tempo disponível, tampouco a habilidade de descrever em minúcias as "pedras e irracionalidades" que a burocracia sem controle semeia pelo nosso caminho, torturando-nos continuamente. Daros

Sunday, August 31, 2008

LEVEMENTE PARANÓICO

Ontem à noite lembrei-me de Allan Abouchar que desenvolvia estudos e pesquisas sobre transportes no Brasil em decorrência de convênio entre o Ministério do Planejamento e a Universidade da Califórnia, na qual era professor. Nessa época, eu era o economista-chefe do Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes - GEIPOT, recem criado no Rio. Queixava-se ele de ter pago uma exorbitância para consertarem um vazamento surgido no imóvel que ocupava. Depois de explicar-me rapidamente o defeito, concordei com ele que o preço cobrado pelo bombeiro (encanador, em S. Paulo e no sul) fora muito alto. Disse-lhe que a única forma de ele não ser explorado no Brasil seria desenvolver uma leve paranóia do tipo "em compras, acertos de prestação de serviço (em todos os níveis, infelizmente...), em qualquer transação, enfim, deve-se sempre desconfiar e pensar que se está sendo logrado" . Em suma, para se adaptar a nosso ambiente, ele deveria desenvolver uma "leve paranóia persecutória" . Não sei se por predisposição genética ou cultural esse viés psicológico tem me protegido também no espaço público contra assaltos. Contudo, isso pode nos levar a erros grosseiros de avaliação como me aconteceu ontem. Dirigi-me a uma das grandes farmácias que operam em cadeia e solicitei um medicamento genérico de determinado produto em cuja receita constava, além do nome comercial, a identificação química da droga. O farmacêutico voltou e disse: " não tem". Perguntei-lhe se existia o genérico e ele respondeu-me: "sim. Mas faz anos que não recebemos mais" Conversamos, então, sobre o assunto, tendo eu encaminhado a conversa para eventual sabotagem do fabricante que teria feito acordo com o produtor do original, relativamente caro, dividindo entre eles o lucro excedente do monopólio daquela fórmula química. Saí da farmácia e, desconfiado, passei por outra onde se confirmou a existência do genérico pela metade do preço. Todavia, no momento, não dispunha em estoque. Informou-me o nome do laboratório que o fabrica. É uma multinacional francesa muito conhecida. Descobri, em seguida, que o que comprara pelo dobro do preço, também pertencia a um laboratório francês meu desconhecido. Dali, até a próxima farmácia, no caminho de retorno a pé para minha casa, comecei a engendrar um acordo entre os dois laboratórios franceses visando a explorar o pobre e ignorante consumidor brasileiro. Entrei na terceira dograria e lá encontrei o genérico. Decidi voltar ao local em que comprara pelo dobro do preço e no caminho desliguei o sistema paranóico e perguntei-me qual era meu objetivo ? Respondi mentalmente: "Receber o que paguei para comprar na última farmácia visitada, ganhando um valor razoável." Entrei e polidamente disse: "consegui o genérico pela metade do preço que paguei aqui por esse produto. Desejo devolvê-lo". Afinal, consegui economizar e andar um pouco mais do que previra, o que me faz muito bem. Abandonei a idéia de acordo entre multinacionais. O viés paranóico funcionou, mas precisa de controle. Daros

Saturday, August 30, 2008

RESPEITO À ORIGEM DO BLOG
Iniciei a edição e divulgação de meu BLOG como parte de terapia ocupacional. Aposentado após décadas de atividades públicas e privadas, senti-me como um caminhão cheio de boas idéias e boas intenções sem lugar onde descarregá-las, e tampouco armazená-las, a fim de dar espaço para a incessante produção de minha mente viva e atenta. Apesar do dito popular que o inferno está cheio de pessoas como eu, cujas boas intenções produziram resultados nefastos para muitos, estou seguro que agora idoso e sem ocupar cargos de poder, ou capaz de influir sobre os rumos e estilo da vida social, econômica, política, cultural, ambiental, religiosa, enfim, sobre a vida dos outros, posso escrever à vontade. Quase me arrisco a dizer que este BLOG, de acesso aberto a qualquer um dos 6,8 bilhões de habitantes da terra, será, apesar disso, um diário quase secreto; o seria completamente se a WEB não estivesse cheia de bisbilhoteiros que poderão ler algum conteúdo dele por mera curiosidade. Assim sendo, este BLOG crescerá continuamente com a adição de notas e notícias sobre a minha vida de observador do meio em que vivo e com o qual interajo. Crítico e reclamador contumaz do que acontece no dia-a-dia, prometo fazê-lo com senso de humor, já que admiro muito esse estilo que nos torna a vida aprazível. Perdôo-me, desde já, por momentos de irritação e até raiva, já que não sou de ferro! O otimismo, espero eu, jamais me abandonará, porém. Daros

PS Visite o Relógio de Estimativa da População Mundial em http://www.netlingo.com/more/poptick.html e reveja sua escala de valores enquanto ainda há tempo.