Friday, November 24, 2006

Canadá busca mão-de-obra especializada no Paraná
Ligia Martoni de O Estado do Paraná

Imigrar para o Canadá pode ser mais fácil do que muita gente pensa. Segundo especialistas, o país tem um dos processos mais rápidos do mundo para recepção de estrangeiros qualificados e aptos a contribuir para o desenvolvimento da economia local. Além disso, está de olho nos brasileiros devido a sua facilidade de integração e oferece oportunidade de trabalho nas mais diversas áreas, com salários promissores.
É justamente essa possibilidade que o departamento de imigração da Província do Quebec explica em suas palestras - em Curitiba, a próxima deve acontecer entre março e abril do ano que vem e as inscrições já estão abertas pelo site www.imigracao-quebec.ca. Com uma política de imigração aberta, o país tem carência de mão de obra especializada e baixos índices de natalidade. Além disso, o governo acredita que a imigração contribui para a diversidade cultural e para manutenção da língua oficial - o francês - na província.
Soraia Tandel, agente do departamento de imigração, explica que vagas existem para todos aqueles que fizerem uma pontuação mínima dentro do perfil esperado. Jovens com até 35 anos estão na faixa etária mais bem posicionada, não importa se solteiros, casados, divorciados, com ou sem filhos. A formação deve ser universitária. Mais recentemente, a demanda tem sido maior ainda por profissionais com capacitação tecnológica. “Não importa a área de formação, exatas, humanas ou biológicas. O importante é que a pessoa tenha certa experiência profissional e disposição para aprender francês antes de imigrar”, acrescenta.
O primeiro passo é ir às palestras. Decidido, o candidato tem de estudar a língua e preparar os documentos necessários para a solicitação do visto de residente permanente, que permite morar e trabalhar legalmente no país, com direito a atendimento de saúde e educação até o ensino médio gratuitos. “Esse dossiê é enviado ao escritório do Québec em Buenos Aires e, quatro meses depois, é feita uma entrevista para checar a documentação, saber o porquê da vontade em migrar e avaliar o francês”, explica Soraia. Se a pessoa for aceita, recebe em seguida um certificado de seleção, solicita autenticação do visto junto ao consulado e aguarda a verificação dos documentos por parte do governo canadense. O processo todo leva cerca de um ano e tem custos considerados razoáveis no que concerne a imigração.
“Enquanto isso, a pessoa vai se preparando, já que é preciso ter uma reserva ao se instalar no país. No entanto, ao chegar ao Québec, o governo oferece mil horas/aulas gratuitas de francês e ajuda o imigrante a inserir-se no mercado de trabalho”, afirma a agente. Segundo Soraia, pode demorar um, dois ou até seis meses, mas fatalmente o emprego aparece. “E enquanto não sai trabalho na área de atuação, a pessoa pode atuar em outros ramos apenas para ganhar dinheiro rápido”, diz. Contente com o salário - que em geral varia entre US$ 25 mil e US$ 50 mil -, depois de três anos no país o imigrante pode solicitar a cidadania canadense.

Adriane e Alexandre estão ansiosos com a partida para o Canadá. A fonoaudióloga curitibana Adriane Andrigheto, 33 anos, já está na última etapa do processo e aguarda para logo o chamado do governo canadense. Junto com o marido, o administrador Alexandre Lemes, 36, ela espera finalmente atuar em sua área de formação com um salário digno do investimento que fez na faculdade. “Pesquisamos bastante sobre o país e, quando fomos à palestra, apenas confirmamos nosso interesse.” A motivação principal, ela diz, foi a falta de qualidade de vida no Brasil e a oportunidade de ganhos justos. “Tive de sair da minha área de atuação porque era impossível viver apenas com o que ganhava como fonoaudióloga.”
O marido pretende atuar com marcenaria, hobby que pratica nas horas vagas em Curitiba, mas que, no Canadá, rende excelentes salários. “Claro que ele terá de estudar, assim como eu, mas estaremos investindo em um futuro certo”, acredita. Quanto ao francês, o primeiro contato com a língua foi depois de tomada a decisão. “E o melhor é que foi paixão à primeira vista. Agora, já conseguimos nos comunicar razoavelmente bem”, diz Adriane, que aproveita o tempo de espera para investir ainda mais na língua e no pé-de-meia para recomeçar em outro país.

COMENTÁRIO MEU
No mundo globalizado, até gente qualificada tem preço e se importa e se exporta. Daí eu ser contra qualquer subsídio à qualificação superior. SOMENTE NA PRÉ-ESCOLA E ESCOLA FUNDAMENTAL o ensino público deve ser universal e gratuito. Ensino médio profissionalizante, faculdades tecnológicas e universidades deveriam ser pagas: públicas e privadas. Nesse caso, os pobres talentosos receberiam financiamento a longo prazo para freqüentá-las. No caso acima, da fonoaudióloga e do administrador, por exemplo, que vão de vez para o Canadá, caso não tivessem ainda pago eventual empréstimo feito pelo governo para que realizassem seus cursos de nível superior, somente deixariam o país se assinassem um compromisso de fazê-lo, remetendo recursos do exterior. Acho injusto que outros brasileiros tenham de viver em mercado de mão de obra competitivo sem ter tido a oportunidade de receber educação fundamental de qualidade por falta de verbas públicas, hoje em grande parte direcionadas para o ensino superior gratuito. Nossas escolas públicas fundamentais deveriam ensinar para valer o português e, também, deveriam habilitar qualquer cidadão brasileiro que as freqüentassem, a falar, ler e até escrever o básico no latim deste milênio: a língua inglesa. Os professores e professoras de Inglês deveriam ser importados numa primeira fase para garantir elevada qualidade no ensino. Não foi assim que se estruturou a USP para formar a elite profissional de São Paulo de graça? Nosso conhecido Deputado Federal Paulo Salim Maluf chegava de automóvel com chofer para assistir às aulas na Escola Politécnica, segundo relato de colegas seus. Por que não assegurar aos alunos de escolas públicas fundamentais também o acesso que as classes econômicas mais altas propiciam a todos seus filhos: o conhecimento do Inglês? Empanturrar nossa população pobre de computadores e informática com acesso à INTERNET serve muito pouco se ela desconhece o Inglês.

Monday, November 20, 2006

MAIS CONFUSÃO
Confesso que quanto mais leio sobre discriminação contra negros e pardos no Brasil, menos entendo o que está acontecendo. Desconheço as causas dela e suas conseqüências e, por isso mesmo, acho difícil aceitar as soluções que se discutem. Trata-se de um assunto extremamente politizado em que dados e avaliações científicos são apresentados de forma improvisada pela mídia, gerando mais confusão do que esclarecimento. Até pouco tempo usava-se, indiferentemente, a designação de preto ou negro aos indivíduos de cor muito escura e de mulato aos mais claros. Mais recentemente, tornou-se ofensivo referir-se a alguém como preto; o correto seria negro. Diga-se de passagem, o inverso do que acontece nos EUA. Também, até pouco tempo, costumava-se chamar os imigrantes de acordo com o país ou região de origem – muitas vezes agregando-os erroneamente, como o caso de sírios, libaneses e turcos, chamados todos de turcos; a primeira geração de descendentes, nascida no Brasil, era tratada como brasileiros filhos de imigrantes. A partir da segunda geração, porém, ignorava-se simplesmente a origem, devido à forte miscigenação presente no Brasil. Hoje, contudo, o negro deixou de ser brasileiro negro para se tornar um afro-descendente, não importa o número de gerações que o separa do escravo (imigrante) africano que lhe deu origem. Já se fala, em alguns círculos, em ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros e toda uma segmentação importada dos EUA para descendentes de europeus. Como a cor de nossa pele nunca serviu, não serve e não servirá para classificar nossa população, devido aos infinitos matizes entre o branco e preto, introduziu-se uma classe intermediária conhecida como parda. Se houvesse algum sistema científico que pudesse medir corretamente o grau de presença das cores preta e branca na pele do brasileiro poderíamos separar nossa população em quatro categorias, quais sejam: preta, pardo-preta, pardo-branca e branca. Qual o propósito científico disso para análises de políticas públicas, confesso minha total e completa ignorância. Cada vez maior, diga-se de passagem. Como isso não foi possível - ou pelo menos sequer foi cogitado - escolheu-se uma solução genial: as próprias pessoas declaram suas cores e, com isso, criam-se três classes: preta, parda e branca. Posso imaginar o drama de um mulato claro que é tratado como branco e que tem plena consciência que sua avó ou avô era negro. Ou do brasileiro que mal conhece a origem de seus avós e nasceu branco para todos os efeitos, mas que nota em algum tio ou parente próximo traços de mulato. Hoje é o dia da consciência negra. Acho muito bom que busquemos tirar do porão e trazer à luz os crimes e as injustiças praticados contra negros. Mas, também, contra índios e, porque não, brasileiros miscigenados, ou não, que também foram explorados e injustiçados e que ainda sofrem em decorrência de um sistema político, social, econômico e cultural que lhes negou e ainda lhes nega igualdade de oportunidades. Feito isso teremos de buscar formas de corrigir a perpetuação dessa situação, de forma democrática, transparente e universal. E sob esse aspecto, ainda que os negros e os autodenominados pardos constituam o maior contingente da população sacrificada pela ausência de oportunidades para seu desenvolvimento sócio-econômico e cultural, não devemos esquecer, também, dos autodenominados brancos que também sofrem com isso e por isso. Em outras palavras, necessitamos políticas que envolvam todos brasileiros que não conseguiram, ainda, romper os grilhões da ignorância e da miséria devido a discriminações e omissões de toda espécie nos campos da saúde, saneamento, educação fundamental, treinamento profissionalizante, segurança, habitação, bem como devido a estruturas obsoletas do governo que não consegue proporcionar ao cidadão comum o mínimo necessário de segurança e justiça para que possa ser livre e exercer plenamente sua cidadania. Nós brasileiros somos todos iguais perante a lei e contamos com igualdade de oportunidades para nossa ascensão profissional e integração sócio-econômica e política no País sob o ângulo dos preceitos constitucionais e legais vigentes no País. No Brasil discriminação é crime e como tal deve ser tratada. Se na prática não é verdade, cumpre a todos e a cada um de nós lutarmos para que se torne real. E não será por meio de novas políticas estruturadas em estudos, pesquisas e avaliações caricatas de nossa realidade que conseguiremos progredir e proporcionar a nós brasileiros e nossos descendentes oportunidades cada vez maiores para sua auto-realização.

Hoje, leio na primeira página da Folha de São Paulo o seguinte título de notícia: “Cresce o número de negros nas Universidades”. Ontem, li no Estado de São Paulo, artigo sobre o mesmo assunto com o seguinte título: “Desigualdades raciais (sic) persistem na educação e no trabalho”, seguido do subtítulo “IBGE revela que no acesso à universidade, por exemplo, diferença entre brancos e negros é maior hoje que há quatro anos”. A leitura desses dois artigos não me esclareceu nada. Só me confundiu.