Monday, November 20, 2006

MAIS CONFUSÃO
Confesso que quanto mais leio sobre discriminação contra negros e pardos no Brasil, menos entendo o que está acontecendo. Desconheço as causas dela e suas conseqüências e, por isso mesmo, acho difícil aceitar as soluções que se discutem. Trata-se de um assunto extremamente politizado em que dados e avaliações científicos são apresentados de forma improvisada pela mídia, gerando mais confusão do que esclarecimento. Até pouco tempo usava-se, indiferentemente, a designação de preto ou negro aos indivíduos de cor muito escura e de mulato aos mais claros. Mais recentemente, tornou-se ofensivo referir-se a alguém como preto; o correto seria negro. Diga-se de passagem, o inverso do que acontece nos EUA. Também, até pouco tempo, costumava-se chamar os imigrantes de acordo com o país ou região de origem – muitas vezes agregando-os erroneamente, como o caso de sírios, libaneses e turcos, chamados todos de turcos; a primeira geração de descendentes, nascida no Brasil, era tratada como brasileiros filhos de imigrantes. A partir da segunda geração, porém, ignorava-se simplesmente a origem, devido à forte miscigenação presente no Brasil. Hoje, contudo, o negro deixou de ser brasileiro negro para se tornar um afro-descendente, não importa o número de gerações que o separa do escravo (imigrante) africano que lhe deu origem. Já se fala, em alguns círculos, em ítalo-brasileiros, teuto-brasileiros e toda uma segmentação importada dos EUA para descendentes de europeus. Como a cor de nossa pele nunca serviu, não serve e não servirá para classificar nossa população, devido aos infinitos matizes entre o branco e preto, introduziu-se uma classe intermediária conhecida como parda. Se houvesse algum sistema científico que pudesse medir corretamente o grau de presença das cores preta e branca na pele do brasileiro poderíamos separar nossa população em quatro categorias, quais sejam: preta, pardo-preta, pardo-branca e branca. Qual o propósito científico disso para análises de políticas públicas, confesso minha total e completa ignorância. Cada vez maior, diga-se de passagem. Como isso não foi possível - ou pelo menos sequer foi cogitado - escolheu-se uma solução genial: as próprias pessoas declaram suas cores e, com isso, criam-se três classes: preta, parda e branca. Posso imaginar o drama de um mulato claro que é tratado como branco e que tem plena consciência que sua avó ou avô era negro. Ou do brasileiro que mal conhece a origem de seus avós e nasceu branco para todos os efeitos, mas que nota em algum tio ou parente próximo traços de mulato. Hoje é o dia da consciência negra. Acho muito bom que busquemos tirar do porão e trazer à luz os crimes e as injustiças praticados contra negros. Mas, também, contra índios e, porque não, brasileiros miscigenados, ou não, que também foram explorados e injustiçados e que ainda sofrem em decorrência de um sistema político, social, econômico e cultural que lhes negou e ainda lhes nega igualdade de oportunidades. Feito isso teremos de buscar formas de corrigir a perpetuação dessa situação, de forma democrática, transparente e universal. E sob esse aspecto, ainda que os negros e os autodenominados pardos constituam o maior contingente da população sacrificada pela ausência de oportunidades para seu desenvolvimento sócio-econômico e cultural, não devemos esquecer, também, dos autodenominados brancos que também sofrem com isso e por isso. Em outras palavras, necessitamos políticas que envolvam todos brasileiros que não conseguiram, ainda, romper os grilhões da ignorância e da miséria devido a discriminações e omissões de toda espécie nos campos da saúde, saneamento, educação fundamental, treinamento profissionalizante, segurança, habitação, bem como devido a estruturas obsoletas do governo que não consegue proporcionar ao cidadão comum o mínimo necessário de segurança e justiça para que possa ser livre e exercer plenamente sua cidadania. Nós brasileiros somos todos iguais perante a lei e contamos com igualdade de oportunidades para nossa ascensão profissional e integração sócio-econômica e política no País sob o ângulo dos preceitos constitucionais e legais vigentes no País. No Brasil discriminação é crime e como tal deve ser tratada. Se na prática não é verdade, cumpre a todos e a cada um de nós lutarmos para que se torne real. E não será por meio de novas políticas estruturadas em estudos, pesquisas e avaliações caricatas de nossa realidade que conseguiremos progredir e proporcionar a nós brasileiros e nossos descendentes oportunidades cada vez maiores para sua auto-realização.

Hoje, leio na primeira página da Folha de São Paulo o seguinte título de notícia: “Cresce o número de negros nas Universidades”. Ontem, li no Estado de São Paulo, artigo sobre o mesmo assunto com o seguinte título: “Desigualdades raciais (sic) persistem na educação e no trabalho”, seguido do subtítulo “IBGE revela que no acesso à universidade, por exemplo, diferença entre brancos e negros é maior hoje que há quatro anos”. A leitura desses dois artigos não me esclareceu nada. Só me confundiu.

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