Friday, December 22, 2006

“Nenhum Privilégio”
Graças à mídia e à repulsa da sociedade não se efetivou o aumento inoportuno da remuneração de nossos congressistas, tão desejada pela maioria deles. Após as acintosas absolvições dos envolvidos em escândalos de corrupção, a população brasileira não agüenta mais manobras feitas por políticos em benefício próprio. Hoje, pude ouvir de Ney Suassuna, ou alguém com sua voz, pois de onde estava não via as imagens da TV, sua crítica à idéia de se solicitar ao executivo transporte aéreo especial para os congressistas visando a poupá-los dos atrasos de vôos e confusões correlatas no Aeroporto de Brasília. Também pude ouvir o argumento de um político a favor dessa idéia que afirmou não se tratar de privilégio, já que se prevê a redução dos subsídios do congressista que se utilizar de avião do governo no mesmo valor da tarifa que seria paga à companhia comercial. Terminou dizendo que assim não haveria nenhum privilégio. O que irrita qualquer pessoa de raciocínio mediano é o descaramento e primarismo como nossos políticos argumentam em favor de seus privilégios, em que o maior deles é trabalhar poucos dias da semana. E quando o fazem, salvo as honrosas exceções que felizmente ainda existem, somente se dedicam a interesses pessoais e eleitoreiros. Para tristeza nossa, as duas alternativas que se apresentam para julgarmos o caráter do político defensor dessa proposta, tornam-no execrável em qualquer uma delas: a primeira, é que se trata de malandro que sabe bem o que é privilégio e tenta desviar a atenção para o pagamento da passagem; a segunda, é que se trata de pessoa de parco raciocínio, pois a simples leitura do significado de privilégio - “vantagem que se concede a alguém com exclusão de outrem...” – o levaria a pensar na população que sofre em nossos aeroportos em conseqüência da crise causada pela incompetência do Governo Federal e do Congresso Nacional. Além disso, do ponto de vista da segurança nacional não seria recomendável que congressistas lotassem vários aviões do governo, pois em caso de acidente com um deles o País poderia sofrer perdas irreparáveis. A população brasileira quer que nossos representantes trabalhem com afinco e competência; e por isso mesmo deseja que viajem com segurança. Feliz Natal e Próspero Ano Novo é o que desejamos a nossos congressistas, inclusive aos que esqueceram de seu papel na sociedade. Sempre é tempo de se redimir.

Monday, December 18, 2006

JANELAS
Windows em inglês, revolucionou o sistema operacional de computação ao nos permitir trabalhar com vários sub-sistemas, mantendo-os abertos e prontos para atender a nossas necessidades. O espírito do WINDOWS, porém, não vinga na mente da elite de nosso País. Hoje, ao saber das vitórias de nossa juventude nos esportes e na música – para quem não sabe, Arnaldo Cohen, veio de Nova York para tocar com a orquestra de Heliópolis, formada por jovens dessa extensa favela paulistana – ao invés de me regozijar com os feitos, fiquei triste. Os esportes e a música têm sido as frestas que nossa sociedade monoliticamente ignorante deixa abertas para o desenvolvimento e expressão das crianças e jovens pobres. O ensino público fundamental continua enterrando talentos e frustrando expectativas ao invés de ser um instrumento de criação de oportunidades que aproveitem a energia e a criatividade da população em atividades produtivas e úteis, hoje perdidas nos meandros da ignorância, violência e sofrimento. A elite política não consegue destravar o país, simplesmente porque está mais preocupada com seus próprios interesses, sejam eles materiais ou de outra ordem, como por exemplo, salvar a pátria, sem esquecer de "cacarejar" por qualquer coisa boa que faça, o mais irrelevante que seja. Essa vaidade, ou carência afetiva, tem sido responsável pela atitude dos detentores do poder somente se cercarem de pessoas incompetentes e bajuladoras. Quem não se lembra da disputa sobre a paternidade do plano real? E das frases repetitivas do atual presidente de que “ nunca na história deste país......” Se o Presidente Lula amadureceu, e está mesmo interessado no bem de nossa população pobre, convide seu ex-correligionário Cristovam Buarque, ou alguém de sua envergadura, para ser o Ministro da Educação e dê-lhe apoio e sustentação política como o fez para Palocci e Meirelles em seu primeiro mandato. Escancare a janela da educação, afastando dela disputas político-partidárias ou ideológicas. E continue trabalhando, e muito, para que as demais que travam o desenvolvimento sustentado de nosso País também se abram. Encerre sua carreira política como estatista e se mantenha como tal; como reserva de sabedoria e discernimento para os momentos difíceis de nosso país. De políticos, politiqueiros e líderes populistas o Brasil está cheio. Faltam-nos estadistas.

Sunday, December 17, 2006

DETERMINAÇÃO
Todos nós sabemos do que se trata. E também já passamos por experiências em que ela nos faltou. Ontem, porém, pude avaliar, em termos físicos, isto é, de força, sua influência. Como não conseguia desatarraxar as uniões que prendiam uma bomba elétrica aos canos de entrada e saída de água comprei uma chave inglesa com 14” (cerca de 36 cm). Ao aplicá-la à união de 1” (2,54cm) preocupei-me em não usar todo o torque propiciado pelo longo braço da chave com medo de quebrar essa união. Além disso, na união de PVC marrom de 3”( 7,62cm) a chave não abria o suficiente e o trabalho teria de ser feito com minhas próprias mãos. Tentei várias vezes, inclusive colocando um pano para que elas não escorregassem no cano, e não consegui. Um detalhe: ora tentava girar a união de um lado, ora de outro, pois não tinha certeza de que lado ela desatarraxava. Com a ajuda de um encanador, retiramos o conjunto, soltando outra união mais acima, pois aquela ele também não conseguiu. Constatei, ainda, que o próprio encanador (pedreiro que sabe de tudo, na realidade!) não tinha certeza do lado certo para girar. Já na oficina em que deixei a bomba para consertar, expliquei ter levado um pedaço desnecessário de cano por não ter conseguido soltar a união que o prendia à bomba. Quem a recebeu, era um senhor mais idoso que eu. Riu e a retirou com facilidade. Disse-lhe que me julgava com pouca força nas mãos diante dele. Respondeu-me que me faltou determinação, pois não tinha certeza de que lado devia girar a união. Após me explicar como identificar o lado que gira – muito fácil de entender, aliás - afirmou que tinha certeza de que na próxima vez a desatarraxarei, pois teria a determinação necessária para fazê-lo. Em outras palavras, a dúvida é a maior inimiga da determinação.

Hoje ouço no rádio que o Internacional ganhou do Barcelona porque jogou com garra. E que faltou determinação no Barcelona, especialmente por parte de Ronaldinho Gaúcho. É surpreendente que um time de futebol milionário não possua em seu quadro psicólogos que sugerissem à direção do time a liberação de Ronaldinho Gaúcho do jogo de hoje. É óbvio que os jogadores conseguem se mobilizar para jogar com garra e buscar a vitória de seu time. Nesse caso, porém, é mais do que simples mudança de time. Trata-se do Internacional, time do Brasil, e do estado que lhe deu o cognome Ronaldinho Gaúcho. E mais: Ronaldinho Gaúcho jogou no Grêmio e viveu, ainda que por pouco tempo, a rivalidade com o Internacional. Como mobilizar, portanto, sua determinação, se seu coração estiver dividido? E, por isso, com dúvidas, mesmo que inconscientes, de que se o Barcelona derrotasse o Internacional devido a sua atuação seria ele o causador da tristeza e do abatimento de sua gente; justamente na região em que nasceu, cresceu e aprendeu a jogar futebol com a alegria que conquistou o mundo?

Sunday, December 10, 2006

DESGASTADO
Foi assim que o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno se referiu ao equipamento de controle de vôo Cindacta 1, em entrevista que ouvi na quinta-feira última. Segundo notícia da Folha de São Paulo, publicada hoje “ ...o comandante chegou a admitir que o equipamento do Cindacta 1 estava "desgastado". Logo em seguida, ao ser questionado por um jornalista, voltou atrás. "Houve falha de comunicação, eu não quis dizer isso. Esse equipamento tem seis anos, tem características desgastadas, mas cumpre sua finalidade com segurança", afirmou. Confesso que me assustei, e com razão, pois em todas as definições sobre o termo no Dicionário Aurélio que podem se aplicar a equipamentos, trata-se de situação irreversível. Ou se troca, ou se corre riscos em função do nível de desgaste. Pode ser que o comandante Bueno cometeu um “lapsus linguae”, dando opinião técnica responsável contra a sua própria vontade; ou quis, conscientemente, afirmar o que pensava e, para não ser punido por seu superior, ironicamente se desdisse: ou, finalmente, ele é que está desgastado. Não o equipamento. É difícil aceitar que se referia a características desgastadas, quando poderia simplesmente dizer, o que todo mundo entenderia: características obsoletas.