Sunday, December 16, 2007

ELETROPAULO
Para quem não sabe, trata-se da empresa concessionária de distribuição de energia elétrica na Cidade de São Paulo. Nos últimos dias, tenho me submetido a diálogos estressantes sobre o que devo fazer para que seja religada a luz em pequeno imóvel comercial de nossa propriedade que se encontra vazio a espera de inquilino interessado nele.

Como nossas caixas de correspondência se transformaram em depósito de propagandas comerciais, ficam entupidas de papel e mal deixam espaço para o recebimento de correspondência relevante, como são as contas de luz e água, por exemplo. Resultado: as contas de luz de dois meses seguidos foram extraviadas e a ELETROPAULO seguiu sua rotina: cortou a eletricidade do imóvel, desligando os fios de entrada no poste externo.

Paguei as contas atrasadas e liguei para a empresa informando a respeito na expectativa de que sua rotina fosse semelhante a da Telefônica que confia no cliente e providencia a religação mediante simples informação verbal de que a conta foi paga. No caso da ELTROPAULO tomei conhecimento de uma rotina que ignora todos os meios modernos de comunicação e não confia em seu cliente. Senão vejamos: existem dois tipos de religações: o urgente, a ser feito no máximo em quatro horas, e o de 24 horas. O primeiro custa pouco mais de R$ 5,00; e o segundo, R$ 30,00. Após ter escolhido o mais barato, já que não tenho urgência, fui informado que deveria ficar de plantão na casa com a última conta paga na mão para mostrar aos funcionários encarregados da religação. Rebelei-me, afirmando que não faria isso, pois ninguém tem 24 horas disponíveis continuamente para isso. Informou-se, então, que o prazo seria de 24 horas e não minha permanência no imóvel. Respirei aliviado, pois imaginava que seriam somente 8 horas de expediente comercial. Surpreendi-me que o horário de prontidão seria das 8 da manhã até às 22 horas, sem intervalo. Havia uma outra possibilidade: dirigir-me a uma das 4 agências da ELETROPAULO, com a conta na mão e pedir a religação. Quanto a definir se a religação seria pela manhã, pela tarde ou à noite, mesmo que fosse à agência, não haveria como fazê-lo a não ser se pagasse o serviço especial de urgência.

Finalmente, o atendente abriu-me uma porta: pedir a um vizinho que atendesse a equipe da empresa. Como não conheço vizinhos, pensei em solicitar ao atendente de uma loja próxima que permanece no local das 8 às 12 e, a tarde, das 14 às 18 horas. A probabilidade da equipe chegar nesse horário seria grande e, caso isso não acontecesse, eu estaria disposto a lá permanecer das 18 às 22 horas. Liguei para o serviço de religaçào no dia seguinte, já que conseguira conversar com o rapaz, tendo ele concordado em me fazer esse favor. Insisti novamente na irracionalidade da rotina, pois há fax para se enviar cópia de conta paga. Surpreendi-me, então, com sua resposta: “pode sim enviar um fax” e deu-me o número que o receberia. Aliviado, pensei que não mais precisaria de pessoa lá de plantão, já que a religação é externa. Aí fui surpreendido com nova justificativa. Para desligar isso é possível. Para religar, não, pois há risco de curto circuito e o Serviço de Corpo de Bombeiros exige presença de alguém no local. Disse-lhe que mandaria fax de carta assinada afirmando que desligaria a chave geral e me responsabilizaria por isso. Não houve jeito. Já no final da conversa alertou-me, ainda, para que o imóvel fosse aberto para a equipe fazer a leitura do relógio. Ou seja, deveria deixar a chave com o rapaz indicado, caso fosse impossível ler o relógio do lado de fora. Fui até o imóvel, depois de feita a solicitação de religaçào e confirmei que a leitura podia ser feita de fora. Não obstante, deixei um papel pregado à Caixa de Entrada com os números da leitura. Finalmente, dirigi-me ao rapaz e confirmei a necessidade dele mostrar a última conta aos funcinários da ELETROPAULO. Para que não houvesse nenhuma dúvida, deixei anotado meu telefone, com o 9090 precedendo meu número para que fosse a cobrar. Saí do local às 10:40. Retornei às 18:30 horas e lá encontrei uma fita impressa colada na porta de entrada afirmando que a equipe de religação estivera ali às 11:42 e encontrou o imóvel fechado. Irritado, liguei para o serviço de religação que depois de um ritual de números para identificar o assunto em seus arquivos, informou-me que realmente a equipe estivera lá as 14:20. Deixando de lado a discrepância dos horários, perguntei-lhe porque o imóvel teria de estar aberto. Respondeu-me que se trata de um impresso. O que a equipe quis dizer é que não havia ninguém no local para mostrar a conta paga. Disse-lhe que isso era sabido, pois deixara o número do imóvel próximo em que a pessoa que estava com a conta se encontrava. Perguntou-me se queria solicitar novamente a religação. Quase estourando de raiva lhe disse que no início da próxima semana tentaria novamente, já que não conseguira falar com o rapaz para confirmar se ele se encontrava na loja no horário em que a equipe esteve lá: 11:42, segundo a fita impressa na porta, e 14: 20, segundo os dados da central da ELETROPAULO. HAJA PACIÊNCIA MINHA GENTE.

Wednesday, July 18, 2007

O MAIOR DESASTRE AÉREO DO BRASIL

UM MORTICÍNIO CULPOSO

E. J. Daros

Pode-se afirmar, sem dúvida, que as duas centenas de pessoas que morreram ontem com a batida e incêndio de avião da TAM em seu próprio prédio na Avenida Washington Luís, após derrapar na pista do Aeroporto de Congonhas ao lado, não foram vítimas de terroristas, de assassinos, de piloto ou passageiro suicida ou de psicopata livre atirador a bordo do avião. Também, pode-se dizer que não se trata de acidente, isto é, de desastre resultante de circunstâncias imprevisíveis sobre as quais não temos controle.

Assim como nas mortes causadas em nossas rodovias pode-se agrupar os fatores responsáveis por elas, em três categorias: nós humanos que conduzimos, ocupamos e estamos perto da aeronave; a própria aeronave; a infra-estrutura aérea, envolvendo as pistas, a sinalização e seus controles, bem como as aerovias e também seus controles. Não devemos esquecer, contudo, o que não se considera, ou pouco se fala, a cultura nacional que envolve tudo isso. Nossos valores e maneiras de viver e ser que estão presentes, em maior ou menor medida, na qualidade da segurança em que se formam ou produzem, organizam-se e operam as três categorias acima referidas. Obviamente, na produção da aeronave pouco é nossa influência cultural, salvo em certas escolhas que o próprio fornecedor permite que se façam. Mesmo nelas, a presença de nossa cultura aparece na manutenção e, principalmente, na operação das aeronaves. Ainda que os padrões de segurança na aviação civil estejam se tornando cada vez mais padronizados internacionalmente, a margem de influência da cultura nacional é muito grande.

Depois do desastre, vão ser pesquisadas suas causas cientificamente, pois mesmo que fosse um acidente, isto é, fenômeno decorrente de causas imprevisíveis, a imprevisibilidade desaparece e dá lugar aos fatores que realmente o causaram, isolada ou combinadamente. No Brasil há uma tendência de se exagerar na responsabilidade do chamado fator humano. Se um carro derrapa e tomba, e não ficar bem claro que a velocidade do veículo estava de acordo com a regulamentada; que as ranhuras de seus pneus eram o suficientemente profundas; que as condições climáticas eram boas; somente então se examina com mais rigor a condição da via. Não é por acaso que a maioria dos acidentes no Brasil é atribuída a falhas humanas, até por que em muitos casos o condutor morto não tem condições de se defender.

Na Suécia se adotou a política de ZERO mortes em acidentes de trânsito. O fato de o condutor errar não deve simplesmente tranqüilizar as autoridades de trânsito ao ter um culpado pelo acidente, como se tudo decorresse somente de seu erro. Ao contrário. O objetivo dessa política é compensar os erros do condutor por meio de medidas de segurança na via e no veículo que possam impedir a perda de vidas. A aviação civil persegue esse objetivo e, seguramente, serviu de inspiração para a política adotada na Suécia.

O ocorrido ontem nos parece mais um morticínio culposo que propriamente um acidente. Senão vejamos. Há décadas se fala na inadequação da localização do Aeroporto de Congonhas. Pressões de todos os lados, porém, defenderam e defendem sua permanência e, o que é pior ainda, sua ampliação. Governos Municipal, Estadual e Federal ora se estranham entre si, ora se harmonizam, na grande empreitada de modernização de CONGONHAS. A aviação executiva considera-o imprescindível e a elite empresarial sempre apoiou e exigiu um Congonhas ali no meio do tecido urbano para atender suas necessidades. “Afinal, toda cidade moderna e de características mundiais como São Paulo tem de ter seu aeroporto central”, fala grosso a elite paulistana. Mais recentemente, devido aos congestionamentos e aos riscos de banditismo em nosso meio urbano, essa mesma elite tornou-se responsável pelos vôos de helicópteros que invadem o espaço aéreo da cidade, produzindo poluição sonora e colocando em risco sua população. Nós passageiros temos ojeriza por Guarulhos. E temos razão para isso. Demasiado tempo de acesso por falta de transporte público rápido e barato como nas grandes cidades do mundo. Até o ônibus executivo mantido pelo governo estadual é dispendioso. Sairia mais barato dividir uma corrida de táxi ao velho estilo do lotação. É proibido, porém.

Somente os moradores próximos odeiam o aeroporto cujo barulho afeta toda a população da região e da própria cidade nas rotas de aproximação. O que se pode dizer do Aeroporto de Congonhas é que tudo contribui para sua insegurança face ao tráfego aéreo nele permitido. Já que os aviões são seguros, considerando que sua manutenção é vigiada pelos próprios fabricantes para evitar dúvidas sobre isso, pesa sobre os ombros do piloto e co-piloto e de controladores de vôo, toda a responsabilidade para corrigir a insegurança quase sempre presente em Congonhas. Há poucos dias derraparam várias aeronaves. Liberou-se a pista principal sem estar terminada. Permitem-se pousos e decolagens acima do limite ideal de segurança. Desrespeita-se a lei de silêncio, prejudicando a população da região onde moram, também, velhos, doentes, bebês e crianças em idade escolar. Permite-se a presença de posto de gasolina e de material altamente inflamável a poucos metros das pistas do aeroporto. Liberou-se a construção de prédios para atender as necessidades da aviação executiva na área do próprio aeroporto. Uma rápida visita a essa área e a suas cercanias colocaria o cabelo de especialistas em segurança aérea em pé.

Pode-se afirmar que autoridades municipais, estaduais, federais e amplos segmentos da sociedade civil organizada na Cidade de São Paulo, imersos em nossa cultura fatalista garantidora de que somente se morre quando Deus determina, são responsáveis pela matança de ontem. Trata-se de um morticínio culposo que nos envergonha perante a comunidade internacional civilizada. Vamos aguardar os resultados da investigação sobre as causas do desastre previsível e anunciado por muitos. Infelizmente, nesse caso específico a previsão foi mais segura que a do tempo feita pelos meteorologistas.

FIM

Friday, March 23, 2007

ATO PACÍFICO
Li hoje a seguinte notícia, publicada em Jornal do Paraná:

"Estudantes pedem passe livre na capital
por Ligia Martoni [23/03/2007]

Estudantes dos colégios Estadual do Paraná, Instituto de Educação do Paraná e Hildebrando de Araújo participaram ontem, em Curitiba, de um ato realizado simultaneamente em cinco capitais do País pedindo o passe livre. A reivindicação gerou transtorno com a ocupação da canaleta do biarticulado sentido norte-sul na Avenida João Gualberto, em frente ao Colégio Estadual do Paraná, obstruindo a passagem dos ônibus por cerca de 40 minutos. Os manifestantes interditaram também o cruzamento com a Avenida Luiz Leão, atrapalhando o trânsito no local. Apesar do transtorno, não houve maiores tumultos e ninguém saiu ferido. Segundo o primeiro vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes (Ubes) no Paraná, Rafael Clabonde, o movimento - que reuniu estudantes também na Praça Rui Barbosa - tinha por objetivo pressionar o poder público para a gratuidade da passagem de ônibus. “Foi apenas um ato pacífico com a nossa cara”, resumiu Rafael.
Em frente ao Colégio Estadual, o clima ficou um pouco tenso depois que a Patrulha Escolar exigiu a remoção do carro de som que os estudantes usariam para organizar o movimento. “Pretendíamos fazer um ato simbólico como desfecho, como pular a catraca, mas sem o som tivemos dificuldade em mobilizar o pessoal”, contou o estudante. Após uma hora de mobilização, por volta das 8h30, os manifestantes foram para as salas de aula.
Ônibus
Para protestar pelo passe livre, os estudantes impediram a passagem dos biarticulados Santa Cândida - Capão Raso das 7h50 às 8h30, ocasionando congestionamento nos tubos da linha em ambos os sentidos. Quem precisou do transporte teve de ter paciência para esperar o reforço enviado pela Urbanização de Curitiba (Urbs) e encarar veículos lotados. A Urbs tentou sanar o problema, enviando dez ônibus que iriam recolher para a canaleta norte-sul, desviando o local onde os estudantes estavam. Aos poucos, os tubos foram sendo descongestionados.
Já na Praça Rui Barbosa a manifestação foi mais branda e durou cerca de vinte minutos. A assessoria da Urbs informou que a Prefeitura já oferece como benefício a meia tarifa a estudantes de baixa renda. Somente no ano passado, a companhia atendeu a 25.727 alunos. "

É muito difícil se considerar séria a afirmação do líder estudantil Rafael de que “foi apenas um ato pacífico com a nossa cara”, Basta se ler a reportagem para se ter uma idéia da violência praticada impunemente contra a população curitibana. Além disso, os estudantes de baixa renda já recebem o benefício de pagar meia tarifa. É interessante se constatar que somente 25.727, repito somente 25.727, beneficiam-se desse subsídio. Por que somente esse número numa metrópole que já tem mais de 2 milhões de habitantes? Seguramente porque a maioria dos estudantes pertence a famílias que têm renda suficiente para pagar as tarifas inteiras. Ao tornar a passagem gratuita, como já se faz com os idosos, pobres ou ricos, além de se estar subsidiando pessoas com renda familiar suficiente para pagar as tarifas cobradas, está-se desviando recursos da Prefeitura Municipal de projetos e programas socialmente mais urgentes. Sem falar em onerar os demais usuários quando a prefeitura decide não subsidiar os serviços, gerando todo tipo de dirtorções e problemas para o transporte público. Infelizmente, continuamos a pensar que os recursos públicos vêm do céu. Como dizia um Ministro da Alemanha, quando a população pressionava o governo para obter mais e mais programas sociais gratuitos: “o povo alemão pensa que o governo é uma vaca que se alimenta no céu e solta seu leite na terra”. Ou educamos e alimentamos bem as novas gerações ou vamos gerar clima para manifestações desse tipo em todos os segmentos da sociedade que pensam em "tirar leite da viúva, custe o que custar" .
FIM

Friday, March 09, 2007

POBRES ALUNOS
O tema sobre alunos de escolas públicas tendo aulas em salas de lata foi objeto de intensa discussão política nas últimas eleições para Prefeito da Cidade de São Paulo. Pouco se falou, porém, se o volume mínimo (m3) de espaço por aluno era suficiente para garantir adequada renovação e circulação de ar; tampouco sobre ruídos excessivos; falta de espaço para atividades esportivas; riscos de trânsito no local. Enfim, ignorou-se o ambiente escolar. Mesmo em escolas privadas consideradas de alto padrão, encontram-se aberrações em suas instalações resultantes de adaptações mal feitas em antigas residências e edifícios. Em muitas delas, por exemplo, os alunos estão sendo seriamente penalizados neste verão. Não seria o caso de se fiscalizar também o ambiente escolar, seja ele público ou privado, além de se aferir a qualidade de ensino? É nossa obrigação moral proteger crianças, adolescentes e jovens - de todas classes sociais - de situações estressantes e nocivas a sua saúde, especialmente em nossas escolas. Se o governo não tem vistas para isso, os pais que abram seus olhos!

Sunday, February 04, 2007

TELEFONES PÚBLICOS
Ninguém de sã consciência nega que houve melhoria extraordinária nos serviços de telefonia, após sua privatização. Infelizmente, o processo de privatização não se resume simplesmente a conceder os serviços ao setor privado. A regulamentação, a fiscalização dos serviços e o monitoramento do mercado são essenciais para garantir serviços sempre melhores e a preços competitivos. A economia de mercado não funciona bem sem a presença reguladora do Estado e de consumidores instruídos, isto é, capazes de fazer escolhas inteligentes do binômio preço-qualidade e, principalmente, daquilo que realmente necessitam, sem se deixar influenciar por propagandas mistificadoras. O baixo nível e a falta de objetividade de nosso sistema de ensino, torna os brasileiros presa fácil de novidades. Com certo exagero, imagino que as expressões fisionômicas de jovens ao usar seus celulares devam ser semelhantes a dos índios quando receberam espelhinhos dos colonizadores portugueses cinco séculos atrás. A intensa propaganda, associada a ofertas com complexas combinações de serviços e pagamentos, tumultuaram o mercado da telefonia celular. O ônus disso ao consumidor aparece nas elevadas somas gastas pela classe média. As classes sociais de renda baixa sofreram, também, com os altos custos do uso do celular. Hoje, somente o usam para receber chamadas e fazê-las em casos excepcionais, utilizando o sistema de pagamento pré-pago que lhes garante limite aos gastos nesses serviços. A falta de serviços de telefones públicos que funcionem bem afeta a classe média que é obrigada a usar o celular continuamente quando está fora da residência. São os pobres, porém, que sentem mais essa deficiência. Simplesmente não se comunicam como gostariam de fazê-lo. A ANATEL deveria avaliar e monitorar a relação econômica entre as prestadoras de serviços e os consumidores de serviços de telefonia celular, proporcionando-lhes dados e informações úteis para fazer escolhas corretas.

As empresas concessionárias argumentam que têm sérias dificuldades em manter telefones públicos em nossas cidades. Realmente, é facilmente constatável a depredação desses aparelhos. Outras instalações de uso público também são depredadas, como por exemplo, as Caixas Eletrônicas do sistema bancário. Infelizmente, as características sociais e culturais de nosso povo transformaram nossos espaços públicos em terra de ninguém. É impossível ao sistema policial manter serviços de vigilância que garantam o respeito a equipamentos e instalações de uso público. As praças públicas vão sendo cercadas; e as instalações privadas de uso público vão se adequando à realidade, oferecendo, por exemplo, os serviços de caixa eletrônico em postos de gasolina, supermercados, shopping centers e em locais que exista vigilância contínua. As empresas telefônicas deveriam buscar soluções semelhantes com a ajuda dos governos municipais que regulam as atividades comerciais e de serviços na cidade. Os supermercados e shopping centers poderiam dispô-los em maior número e melhor distribuídos em suas instalações. As bancas de jornais, abrigá-los dentro delas, também, Assim como bares, restaurantes, postos de gasolina, pontos de táxi, e toda e qualquer atividade de prestação de serviços e de comércio. Não adianta nada a existência de telefones públicos em lugares ermos que não funcionam. Hoje, em caso de emergência, sempre existe o celular para substituir o serviço público. O que se necessita, agora, são de telefones de fácil acesso em locais públicos visando a substituir o uso do celular e reduzir os custos da comunicação para a classe média e, especialmente, para os pobres. As concessionárias de serviços de telefonia celular não têm interesse nisso. O que será que a ANATEL tem a dizer sobre isso?

Sunday, January 28, 2007

TELEFÔNICA
Costumo ouvir o Diário da Manhã na Rádio Cultura. Sou obrigado a desligar o aparelho todas as vezes que é apresentada a propaganda institucional da Telefônica sobre seu programa social voltado a crianças e adolescentes, tal a chatice e a longa duração da música e de suas letras repetitivamente apresentadas. Deixo de ouvir boa música e entrevistas interessantes por conta disso. A única diferença com a horrorosa propaganda eleitoral gratuita é que a Telefônica paga o longo tempo utilizado à Rádio Cultura. Muita propaganda, faz-me lembrar da infância em que uma galinha pequena, que também punha ovos minúsculos, cacarejava mais forte e longamente que as outras, despertando risos e chacotas de minha família. Quem sabe algum deputado apresente projeto de lei limitando os gastos em propaganda. No caso de programas sociais, por exemplo, seria estabelecido um percentual máximo do total gasto nesses programas.

Disseram-me que a Companhia Telefônica de São Paulo-TELESP brilha no campeonato de reclamações de usuários de serviços, ocupando o primeiro lugar. No último dia 24, os péssimos serviços dessa empresa estragaram-me o dia. Pela manhã fui ao centro da cidade a fim de comprar um carregador de bateria para meu celular. Aproveitei, também, para pesquisar preços sobre compressores caseiros para pintura. Depois de visitar várias lojas na Florêncio de Abreu, decidi comprá-lo ali mesmo; não antes, porém, de comparar seu preço com o da Le Roy Merlin. Como a bateria do celular estava descarregada, tive de buscar um orelhão para essa consulta telefônica. Comprei um cartão eletrônico com 50 unidades. Após discar várias vezes o serviço de informações gratuito 102, muito ocupado naquele momento, consegui completar a ligação e responder às perguntas de praxe de fita gravada: “telefone comercial ou residencial? etc.”. Foi-me fornecido o número do telefone da MERLIN. Coloquei meu cartão numa ranhura estreita, engendrada para testar nossa paciência. Depois de algumas tentativas frustradas, virando o cartão de um lado para o outro, vibrei com o surgimento do número 50 que me habilitava a comunicar-me. Após toques e mais toques sem resposta ouvi o irritante som de linha ocupada. Tentei novamente e ouvi a surrada e antipática voz gravada: “esse telefone não existe” . Liguei novamente o 102 e consegui um outro número. Colocava o cartão de todos os jeitos possíveis e nada conseguia. Mais algumas tentativas e, finalmente, o aparelho aceitou meu cartão. Antes mesmo do telefone ser atendido, se é que ia ser mesmo, os números que indicavam o crédito do cartão caíram rapidamente de 50 para 49 e 48. Retirei o cartão antes que meu crédito fosse consumido. Desisti dessa ligação para a empresa Le Roy Merlin e segui pelo viaduto Santa Ifigênia em busca do carregador de bateria. Lá entrei numa loja cujo vendedor pegou meu celular e tentou enfiar um pino que não entrava no local previsto para o encaixe. Tirei-lhe da mão o aparelho e retornei para a Florêncio de Abreu, completamente abatido.

Dado o avançado da hora, decidi ligar para minha casa e novamente enfrento um conjunto de três orelhões justapostos dos quais somente um funcionava. Felizmente, meu cartão foi aceito na primeira tentativa, pois apareceu o número 47. O que não esperava é após discar o número ouvir aquela maldita voz dizendo-me: “esse telefone não existe”. Como era o telefone de minha própria residência, pensei que discara o número errado e tentei novamente, pressionando com muita atenção e esmero cada numero. Ao final, ouvi outra vez: “esse telefone não existe” .
Comentei o fato com alguém que esperava a vez para usar o telefone público e, para surpresa minha, numa demonstração de paciência e gentileza, recomendou-me para insistir mais uma vez. Dessa vez o telefone “inexistente” começou a tocar e minha esposa atendeu. Mal comecei a conversar, a ligação caiu. Irritado, ou melhor, irado, voltei à banca de jornal onde comprei o cartão e quis devolvê-lo. Apercebi-me logo do ridículo e limitei-me a perguntar à vendedora a origem do cartão. Informou-me que eram fornecidos diretamente pela Telefônica. - “O senhor foi azarado pois o aparelho que usou deve ser daqueles que comem cartão” , disse-me com a maior naturalidade. Para um estrangeiro, tal explicação soaria como fantasia de uma vendedora acometida de crise mental. Um surto psicótico. Para mim, brasileiro dos velhos tempos, veio à mente lembranças de experiências do passado quando se usavam fichas metálicas ao invés de cartões eletrônicos. Quantas vezes pude constatar a “gula“ dos aparelhos que as engoliam sem dar a chance de se falar. E, em outras ocasiões, sem ficha na mão, dava-se pancadas no aparelho e era-se premiado, como nas atuais máquinas de jogos eletrônicos, com uma enxurrada de fichas devolvidas.

Contei à minha filha mais velha o que acontecera comigo naquela manhã. Ela confortou-me dizendo que isso ocorre com todo mundo. E que “a melhor propaganda da responsabilidade social da Companhia Telefônica seria oferecer bons serviços a seus usuários e não ficar alardeando sua ação social junto a adolescentes e crianças, com aquelas musiquinhas chatérrimas “, disse-me ela. O que será que a ANATEL acha de tudo isso? Será que ali também nada se vê, se sabe ou se escuta?

Friday, January 12, 2007

ACIDENTE EM CONSTRUÇÃO DO METRÔ EM SÃO PAULO
Lembro-me das intensas discussões havidas após o acidente ocorrido na via elevada Paulo de Frontin durante sua construção no Rio de Janeiro, em 1.971. O vão de uns 20-30 metros simplesmente caiu numa rua que o cruzava, destruindo e matando os que se encontravam ali naquele momento. Coincidentemente, passara naquele local, algumas horas antes, daí a marca deixada em minha memória. Naquela época eu era presidente da empresa Transplan-Engenharia e Planejamento de Transportes depois de ter vivido uma extraordinária experiência de trabalho: participei da criação do GEIPOT, em 1964-65, e fui seu economista-chefe até meados de 1.969. Nesse qüinqüênio foram desenvolvidos planos diretores de transportes e definidas políticas nacionais que envolviam aspectos de engenharia, economia e gestão. O Banco Mundial estava profunda e amplamente envolvido nesse processo de modernização dos transportes brasileiros.

"Licitações, somente após ter sido concluído o projeto executivo, que deveria ser o suficientemente detalhado para garantir qualidade às estimativas de custos e às propostas técnicas de execução das empreiteiras”; “ Supervisão da execução do projeto pela própria projetista para evitar descontinuidade de responsabilidade em relação ao projeto aprovado. Alterações no projeto original somente poderiam ser propostas pela projetista às autoridades públicas e o suficientemente justificadas as razões delas”; “Empreiteiras, obviamente, não poderiam ter participação na propriedade e/ou gestão das projetistas das obras a que concorriam”; “As faturas de execução das diferentes etapas das obras teriam de ser aprovadas pela supervisão da empresa projetista, autora do projeto original”. Esses eram alguns dos princípios que deveriam nortear a gestão do desenvolvimento da infra-estrutura de transportes em nosso País. Lembro-me de empreiteira brasileira ter-se revoltado pelo não pagamento de uma fatura sua de grande valor porque não conseguira a aprovação das obras relativas ao sistema que daria sustentação aos taludes de cortes e aterros feitos. Exagerava-se que pela falta de grama (não de grana!) a fatura ficou presa, com a clara intenção de desmoralizar o processo de modernização da gestão pública.

No caso do vão que caiu houve descontinuidade no processo de projetar, executar e supervisionar a execução da obra. No velho estilo brasileiro, a fiscalização pública aceitava mudanças no projeto original sem o consentimento da projetista, normalmente desligada do processo de construção a partir da licitação. Tampouco o projeto executivo que dera origem à licitação era o suficientemente detalhado para evitar contínuas dúvidas alimentadas pelas empreiteiras junto aos órgãos públicos fiscalizadores. Muitas delas válidas, e outras tantas não, pois seu objetivo era o de conduzir a soluções que melhor atendessem a seus interesses comerciais. Quais foram os resultados práticos de sindicâncias e investigações havidas, simplesmente os desconheço, tal a confusão legal e administrativa gerada após o acidente.

O desabamento de parte de futura Estação do Metrô de São Paulo junto à Marginal do Rio Pinheiros, hoje, 12 de janeiro de 2.007, 36 anos após o acidente no Paulo de Frontin, vai por à prova se o processo de concepção, projetação, execução e supervisão da obra do metrô de São Paulo respeitou os princípios supracitados que garantem a continuidade de autoridade e responsabilidade no processo de construção de obras públicas.