Quarentena - Sim ou
Não
E. J. Daros
Infelizmente, políticos adeptos da velha
filosofia religiosa maniqueísta continuam ocupando o poder e conseguem
tumultuar o trabalho de profissionais que lutam na defesa de nossa saúde
ameaçada pelo COVID-19 com a falsa opção: SIM ou NÃO, referindo-se à
quarentena.
A velocidade de
contaminação deste novo coronavirus é tal que extrapola os recursos
hospitalares disponíveis para tratamento. O que nos chama a atenção é que a luta contra o novo coronavírus em nosso País está concentrada somente nos
setores de saúde das três esferas de governo, sendo encarregado da sua coordenação
o médico ortopedista e ex-deputado federal, Luiz Mandetta, atual Ministro da Saúde.
A reduzida participação de outros setores que dispõem de experiência e conhecimento para colaborar na
redução dos custos dessa luta monumental é inacreditável. O mínimo que nós esperamos agora do governo é eficácia e eficiência no combate da pandemia que nos assola. Basta-nos lembrar da frustração generalizada da população brasileira com o desempenho de nossa economia e do alto nível de desemprego prevalecente, justamente no início da epidemia em nosso País para entender essa condição. Eficácia e eficiência é mais do que um desejo. É condição que se evitem sofrimentos futuros decorrentes de prejuízos estruturais econômicos, financeiros com reflexo negativo na já elevada taxa de desemprego.O lema infantil de pessoas alienadas que "não há custo que não possa ser pago por uma vida salva" não merece comentário. Portanto, buscar a integração de atividades de outros setores visando garantir mais eficácia e eficiência na luta contra a pandemia deve ser também um objetivo a ser perseguido
Pensando nesse assunto,
fica-se impressionado, por exemplo, achar-se que o movimento humano em espaços públicos urbanos,
forte gerador de contaminação, seja somente assunto de medicina. A própria
quarentena em áreas urbanas, como freio ao crescimento acelerado da
contaminação visando garantir tempo para a ampliação de leitos e
serviços hospitalares compatíveis com a crescente demanda, também implica análise de alternativas com uso de matemática e de
estatística aplicada. Infelizmente, tudo indica que até agora, não foram utilizados os recursos da logística amplamente aplicada em construção, montagens e compras em geral.
Amenizar os efeitos negativos no nível de emprego e nas atividades de produção, comércio e consumo é
um objetivo secundário, porém muito importante. Um exemplo típico de ineficácia é a ausência do
serviço público de fiscalização do respeito às regras impostas pela quarentena;
na India se utiliza o chicote; na Europa, multa-se e prende-se; e, no Brasil,
filmam-se os desobedientes! A prisão domiciliar preventiva com uso de
tornozeleira serve como uma luva em nosso País. Em São Paulo, o Governador
Dória continua ameaçando usar formas coercitivas.
Os brasileiros, que não conseguem entender a importância da quarentena
que envolve matemática, estatística e avaliação de cenários de probabilidade,
estressados pelo desemprego e perdas de toda ordem dela decorrentes, dividiram-se
em vários grupos. Os que não gostam da quarentena, mas têm consciência que sem
sucesso dela estaremos repetindo o ciclo desesperador da Itália e por isso a
toleram; os que nunca a aceitaram e continuam circulando nas vias públicas a pé
e de automóvel, por interesses e razões diversas. E, finalmente, o grupo
político liderado pelo Presidente que desrespeita em suas andanças em Brasília
as normas que ele mesmo aprovou.
É surpreendente o silêncio que prevalece na
mídia sobre a possibilidade de se produzirem no Brasil máscaras, luvas,
aparelhos de teste, respiradores, desinfetantes gerais e álcool-70 e outros
produtos essenciais de uso hospitalar, seja para reduzir preços e especulações,
ou para evitar custos e atrasos frequentes nas importações. Não se tem notícias
sobre entidades de saúde ou dos setores industrial, de engenharia de produção e
de centros de pesquisas de universidades, avaliando possibilidades de
colaboração. É possível que melhor coordenação e integração desses setores
possam ajudar a fornecer o que se necessita. Tomei conhecimento, por exemplo,
que uma unidade “StartUp” em Curitiba vai produzir testadores e que pesquisa
realizada na Escola Politécnica da USP já possui um protótipo de
respirador.
O
objetivo deste texto é chamar a atenção e mostrar que, nesta luta, estamos
necessitando de outras atividades e setores complementares ao da saúde que
possam colaborar na luta contra o CODI-19. A situação de doentes morrerem por
falta de respiradores ou o número de contaminados aumentar por ausência de fiscalização,
de testadores e de monitoramento, são exemplos de situações inaceitáveis. Pior
ainda, médicos, enfermeiros, enfermeiras, e demais pessoas que estão na frente
da batalha em contato direto com os contaminados, sem a proteção adequada,
correndo o risco de se contaminar e até mesmo falecer.
Não se
trata de uma guerra entre inimigos. Mas de ações ou omissões de nós seres
humanos. Na China foram os detentores do poder estatal que, por razões
desconhecidas, não reconheceram o alerta
de cientista que identificou o vírus e, posteriormente, morreu em decorrência
de sua contaminação. Confirmado o alerta, porém, as autoridades omissas,
apavoradas com a rapidez da contaminação e das mortes causadas, agiram com
rigor, respaldando as ações necessárias propostas pelos cientistas que então
conseguiram controlar a crise na China. De exportadora do vírus, passa agora a
se defender de eventual importação desse mesmo vírus com medidas severas de
controle de entrada no país, pois ainda não se tem uma vacina específica que
evite novas crises. A ordem atualmente é manter-se em guarda.
Da China, o
vírus se espalhou celeremente por todo o mundo, tornando o ser humano, esteja
onde estiver em nosso planeta, em potencial vítima de contaminação. Contudo, a nossa
sobrevivência, novamente, está ligada à eficácia das medidas adotadas pelo
poder estatal no local em que habitamos. Não obstante a triste consequência da
omissão havida na China cujas autoridades ignoraram o cientista que a teria
evitado, agora, alguns poderosos nos novos países e regiões afetados repetiram o
erro. Muitos, porém, agiram com rapidez, buscando reduzir os danos com a
quarentena que lhes permitiu ampliar a capacidade hospitalar e reduzir
substancialmente o número de mortes. A Alemanha, até por sua grande capacidade
hospitalar inicial, expandiu-a e conseguiu controlar a crise, apresentando um
índice baixo de mortos em relação a sua população. Ao contrário, outros países
europeus e os Estados Unidos que desprezaram a rapidez da propagação da
contaminação e tentaram buscar soluções menos radicais como a quarentena sofreram
e, ainda estão sofrendo com o elevado número de contaminados e mortos.
No início, Presidente Trump não poupava palavras para afirmar que os
Estados Unidos estavam preparados a enfrentar a presença do vírus. Poderoso,
mas atento ao que estava acontecendo, especialmente no Estado de Nova Iorque cujo
Governador foi reticente e lutou contra a quarentena rigorosa mas acabou
aceitando-a posteriormente. Nos Estados Unidos em que o poder dos Estados frente ao
Governo Federal é bem maior que aqui no Brasil torna-se difícil impor medidas severas
em todo seu território. Nesse país, uma de suas principais características, a
alta mobilidade da população, favorece a contaminação. Sua grande diferença em relação ao Brasil é a
extraordinária disponibilidade de recursos e capacidade técnica de atender a demanda crescente de serviços hospitalares rapidamente e de meios alternativos para contornar dificuldades encontradas..
Outro exemplo de reação tardia aconteceu no norte da Itália. Lá, dois
agravantes tornaram a crise italiana uma verdadeira tragédia para uma população
de 60 milhões de habitantes vivendo em território menor que o Estado de São
Paulo: capacidade hospitalar pequena e população idosa expressiva. Esses dois
países ocupam os primeiros lugares em número de mortos. acima da China
Nosso país caminha para uma situação difícil de
ser prevista como o que está acontecendo indica. É necessário que cada um de
nós, razoavelmente saudáveis e lúcidos, não só respeitemos as normas de
quarentena, como busquemos apoiar com o conhecimento e o poder que dispomos
para que a quarentena não seja desrespeitada acintosamente como tem ocorrido.
E, ainda, que não entremos no jogo político de nosso Presidente. A luta contra
o COVID-19 é vital, prioritária e deve continuar com afinco e capacidade para
se reduzir ao mínimo possível as suas consequências nefastas que já são enormes
e poderão ser piores ainda. Quanto mais eficiente e eficaz for nosso trabalho
em menos tempo estaremos preparados para conviver com esse danoso vírus até que
a almejada vacina nos traga a desejada tranquilidade.
Nossas
recomendações finais de leigo no assunto após constatar a necessidade urgente
do Ministério da Saúde acionar outros ministérios para indicarem profissionais
competentes e, acima de tudo experientes, são de que o Ministro de Economia
designe o IPEA, afeito a estudos macroeconômicos e conhecedores das áreas que garantem
a estabilidade e o crescimento da economia brasileira para monitorar projetos de quarentena e de proibição de circulação a
fim de evitar danos ao produto e a renda, alertando e participando de soluções e
busca de alternativas que garantam o mínimo de perdas no combate ao CODI-19 à economia.
Além disso solicitar profissionais
especialistas e experientes em operação de trânsito urbano e interurbano para proporem
medidas para se garantir o cumprimento de normas da quarentena, bem como de
todas as medidas relativas à proibição e facilitação de trânsito em rodovias e em
vias públicas urbanas. Finalmente, apelar a entidades privadas interessadas em
reduzir ao mínimo possível os danos à organização e estruturação da economia brasileira que participem financeiramente na contratação de consultores de alto nível,
brasileiros ou estrangeiros, experientes neste trabalho de luta contra o
CODI-19. Atendendo, obviamente, solicitações do Ministério de Saúde,
responsável pela Coordenação das atividades de combate ao CODI-19 a nível federal.
FIM