Tenho acompanhado com muito
interesse o despertar dos políticos para
o transporte não-motorizado. Esse sistema de trânsito que torna nossas cidades
mais alegres, menos poluídas e, acima de tudo, torna as pessoas que se
movimentam com a energia de seu corpo mais saudáveis e felizes, produz
benefícios diretos e indiretos que justificariam de pronto a realização dos
pequenos investimentos necessários a viabilizá-lo como forma de transporte,
também. Recreação é ótimo para S. Paulo. Se estiver associada ao trabalho no
dia-a-dia do cidadão, muito melhor ainda. Numa cidade que não tem mais espaço
para carros particulares, e em que o congestionamento afeta negativamente tudo
e todos, qualquer deslocamento que possa ser feito a pé ou sobre rodas movidas
pelo corpo (bicicleta, skate, patins. etc.), deve ser considerado prioritário.
O argumento de que não existe espaço para ampliar calçadas e se criarem faixas
especiais nas ruas para os não-motorizados mais velozes, não é válido. Há
espaço e muito; hoje ocupado por filas enormes de automóveis estacionados ao
longo das calçadas. Além disso, há milhares de quilômetros de vias públicas em
áreas de pouco trânsito que não fazem parte do sistema arterial em que a
velocidade máxima deveria ser de 30 km/h para que a convivência entre o
motorista e o cidadão não-motorizado sobre rodas possa ser facilmente
harmonizada. Bastaria liberar a faixa lateral da via para sua circulação,
proibindo o estacionamento de automóveis ao longo dela. A ciclofaixa em grandes
avenidas chama mais atenção, sem dúvida! Porém, apresenta dois inconvenientes muito sérios. Usa um espaço que poderia ser mais bem utilizado por transporte público e atrapalha o trânsito dos veículos automotores que necessitam de maior velocidade para circular nessas vias arteriais. ainda que limitada a 60 km/h, ou 50 km/h, como acontece em Nova Iorque e em cidades europeias. Os sistemas locais de não-motorizados, integrados ao
transporte público que serve os bairros seriam mais úteis, porém. E os benefícios
econômicos, sociais e ambientais bem mais amplos. E o pedestre? Poderá o
cidadão que anda a pé contar algum dia com calçadas confortáveis e seguras,
além de um ambiente limpo e livre de bandidos para transitar? Quem sabe um dia
os políticos, que já abriram os olhos para as bicicletas, comecem a pensar um pouco sobre isso para concluir
que o envolvimento direto de associação de bairro, com fronteiras geográficas
claramente definidas e estruturadas, e sem sectarismo político-partidário ou de outra ordem, é o caminho para se
mobilizar a população responsável pelas calçadas. É mais fácil convencer o
proprietário do imóvel por meio de interlocução no local em que ele vive e
realizar um contrato ou convênio com a associação de seu bairro para a execução
de um plano de recuperação e ampliação de calçadas juntamente com medidas
visando a moderar e racionalizar o trânsito na área considerada. Nela, os
vizinhos, que para mim são eles, para eles sou eu. Haverá cobrança recíproca
sem dúvida, liberando a Prefeitura para a elaboração de projeto e construção de
calçadas em regiões acidentadas, hoje calamitosas para os pedestres, onde não há expectativa de solução.
FIM