Monday, June 17, 2013

SAUDAÇÃO AO SER PEDESTRE NAS MARCHAS DE OUTONO*


I
Viva nosso corpo, nossa saúde, o ar e a vida;
Viva a liberdade de pensar, de expressar e de escolher;
Viva o trabalho que enaltece, enobrece e enriquece;
Viva a fraternidade, a honestidade e a habilidade.

Salve o homem dos pés à cabeça, a terra e seu ambiente;
Salve as idéias e as manifestações de harmonia e de paz;
Salve a palavra e a ação de amor e de alívio da dor;
Salve a integridade dos valores herdados e criados

Salve o progresso que liberta o usufruir sem destruir;
Salve o conhecimento que funde simplicidade com felicidade;
Salve a educação que civiliza, socializa e também individualiza;
Salve a surpresa, a incerteza e a tristeza que nos dão firmeza.

Que o bem se sobreponha ao mal em nossos pensamentos e ações;
Que a força da moralidade seja capaz de evitar o malfeito;
Que mistificação e falsidade não possam vingar em nosso seio;
Que a guarda nos proteja e a justiça puna os malfeitores.
                                                  
                                            II
Que o cidadão a pé tenha prioridade sobre veículos automotores no direito natural de ir e vir livremente, pois motoristas e motociclistas são expressões do estar do cidadão cujo ser nasce e vive na condição de pedestre. 

Que a acessibilidade universal envolva deslocamentos motorizados menos longos, exigindo, para isso, ampla reforma urbana com alargamento e modernização das vias arteriais e mudança nas leis de uso e ocupação do solo.  E os deslocamentos, quando necessários, sejam por transporte público, confortável, seguro e rápido, ao qual toda a população tenha acesso.

Que o transporte motorizado privado pague pelo uso efetivo em quilômetros percorridos nos sistemas viários urbano e interurbano, remunerando os investimentos na construção e arcando com os custos de manutenção e recuperação dessas vias, e da operação e fiscalização do trânsito.

Que nesses custos sejam incluídos danos materiais e morais causados aos cidadãos por poluição sonora e atmosférica, acidentes e obstrução visual, e se pague, também, pelo estacionamento de veículo nas ruas, dispensando-se  a sinalização de Zona Paga, ou seja, se não for proibido no local considerado, é permitido, como acontece hoje, porém será pago.


* Saudação em Homenagem às Marchas de Protesto da Juventude Brasileira contra Políticos e Políticas Responsáveis pela Estruturação, Organização e Operação das Instituições do Estado Democrático de Direito Brasileiro que Consagram a Governança Autoritária, Ineficiente e Imoral, Desrespeitando a Dignidade do Cidadão e Ignorando as Necessidades Fundamentais da População.

PS 1.Esta Saudação é da inteira responsabilidade do Daros, como blogueiro. Por engano, ela foi divulgada na sua função de Presidente da Associação Brasileira de Pedestres sem que tenha sido submetida à aprovação de nossos conselheiros

    2.Nela está implícita, mas é bom que se explicite, que ele não apoia tarifa de serviços de transporte público zero, tampouco tarifa mensal, única, ou qualquer outra forma de cobrança que não traduza o custo do serviço prestado (com eficiência, obviamente) em valor tarifário, liberado do pagamento do uso da infraestrutura que, no caso rodoviário, seria pago pelos automóveis particulares e caminhões. Tarifa zero em país pobre com sérios problemas nos setores de saúde, saneamento, segurança e educação, é simplesmente inadmissível. A tarifa zero, ou mesmo a subsidiada que não leve em conta a distância, conduz à ineficiência e desestrutura o espaço urbano. O serviço público, ainda que de caráter essencial e universal, sempre que se possa identificar o consumidor e a quantia consumida, deve ser tarifado em função do consumo. 
Os desequilíbrios assustadores em cidades grandes brasileiras que levam a mão de obra pouco qualificada a morar a distâncias enormes dos postos de trabalho são criados por mau planejamento urbano que estimula o espraiamento exagerado das cidades. Cobrar-lhes tarifa zero é perpetuar o seu sofrimento e não corrigir o erro. Subsidiar-lhe a renda familiar, enquanto não se reestruturam esses espaços urbanos para que se tornem eficientes e mais saudáveis, pode ser uma saída, porém provisória. 
Os núcleos urbanos não são edifícios, rigidamente limitados em sua ocupação e circulação, já em seu projeto; mas eles têm características e limites criados e desenvolvidos por meio de séculos de urbanização e milênios de vida social do ser humano. As poucas cidades europeias que ainda mantêm as características de séculos atrás, modernizadas sem violentar e destruir seu núcleo urbano inicial podem e devem servir de inspiração para se estruturarem nossos núcleos urbanos de maneira mais humana e agradável ao convívio humano. Como células saudáveis, nada impede que se justaponham entre si, mantendo em torno delas um anel verde de proteção contra o espraiamento sem controle no tecido urbano semelhante ao câncer. Qual o tamanho ideal do núcleo urbano? Seguramente não é o da Cidade de São Paulo que aos poucos está tragando todas as cidades da área metropolitana, transformando-a num espaço anônimo em que as vias nada mais são que lugar de passagem de pessoas estranhas em busca de sua casa perdida num mar de habitações em bairros cujas fronteiras destruídas se esvaem com a memória de seus habitantes mais velhos. A única identidade é o CEP e o nome da rua que se repete à medida em que os municípios desaparecem nessa verdadeira metástese destruidora do tecido urbano saudável composto de cidades menores com unidades de vizinhança protegidas por anéis desabitados de área verde. Se o objetivo é uma vida saudável e feliz necessita-se repensar as estruturas monstruosas em que estão se transformando as cidades de nossos avós.Mais algumas gerações, e a perda poderá ser definitiva.   
                                        FIM
              
                                                           

Saturday, June 15, 2013

SCARINGELLA FALECEU

Lembro-me de sua saída intempestiva e extemporânea da Presidência da CET. Infelizmente, em nosso País, os políticos não prezam o conhecimento e a experiência de profissionais como o Scaringella. Tenho acompanhado de perto manifestações de técnicos sobre o que erroneamente chamamos de pedágio urbano. Trata-se de expressão antipática que nos leva ao período anterior ao Estado organizado em que bandoleiros e senhores feudais extraiam das bolsas dos usuários das vias o famoso pedágio. Coincidentemente, ou não, Scaringella teve a coragem de afirmar publicamente antes de sua saída que a cobrança de pedágio urbano em nossas vias urbanas (na realidade, tarifação de serviços prestados) seria a solução ideal para a eliminação do congestionamento e a geração de recursos para manter e operar a infraestrutura viária. Tese aceita por profissionais que estudam políticas (policies) visando ao racional uso e integração dos diferentes serviços de transporte urbanos e interurbanos, podendo ser adaptada às condições sociais e econômicas do País em que for aplicada. Que o mistério imperscrutável do após morte não apague de nossa memória pessoal e social aqueles, como Scaringella, que transitaram pelos caminhos árduos que temos pela frente para tornar nossas vidas mais amenas, pacíficas e felizes. Caminhos esses quase sempre evitados e contornados por nossos políticos demagogos. Nossos pêsames a sua família pela perda de Scaringella.
                                           FIM