Sunday, October 19, 2008

MARTA E A SEXUALIDADE -II

Como sempre, as manifestações de nosso Presidente Lula são espontâneas e revelam a qualquer um suas idéias e preconceitos. Ao defender a candidata Marta Suplicy, as seguintes frases merecem destaques: a) "quando todos nós tínhamos preconceito"... b) " uma pergunta difamatória " .. Ou seja, agora que não tem mais preconceito, considera, por comparação com o que perguntam também para êle, que a pergunta feita à Kassab é difamatória. Leia o trecho abaixo e chegue a sua própria conclusão. Daros

"Temos que ter claro que essa mulher tem sido nesses últimos anos vítima de um preconceito raivoso e rançoso aqui na cidade de São Paulo", discursou Lula, para quem a elite considera "imperdoável" que ela tenha construído CEUs (Centro Educacional Unificado) na periferia e não em bairros ricos."Tem um bando de gente, uma minoria, mas influente, que não aceita que pelo teus próprios méritos você tenha as mesmas coisas que ela."Sobre a propaganda da campanha petista que pergunta se Kassab é casado ou tem filhos, Lula saiu em defesa de Marta."Tentaram passar a idéia de que essa mulher tem preconceito contra homossexualismo. Exatamente essa mulher que quando todos nós tínhamos preconceito ela já estava na TV Mulher [na TV Globo, nos anos 80] defendendo as minorias."Ele ironizou a repercussão do caso. "Ah, meu Deus do céu, se a imprensa me defendesse cada vez que fazem uma pergunta difamatória para mim. Ah, se ela me defendesse cada vez que alguém me pergunta: "Ô Lula, sabes falar inglês? Então não podes governar o Brasil". Ou "És casado, tens filho?" Ora, quem é que já não recebeu essa pergunta? Ainda vou criar o "dia da hipocrisia" neste país".

Fonte: Em RANIER BRAGON-em São Paulo e NANCY DUTRA-Colaboração para a Folha de São Paulo - Domingo - 19/10/2008

Wednesday, October 15, 2008

MARTA E A SEXUALIDADE

Todos nós temos muito interesse em nossa sexualidade e na dos outros, especialmente na adolescência. A maioria amadurece e passa a se interessar por outras coisas, também. O Brasil, por tradição cultural, sempre preservou a liberdade de escolha em matéria sexual, condenando, por exemplo, somente abusos como pedofilia e estupro e caçoando do homossexualismo por meio de piadas. A tolerância, em alguns casos, chega a ser exagerada, muitas vezes por ignorância. Não é por acaso que políticos famosos chegaram a produzir frases como: “estupra, mas não mata" ou, diante de falhas nos aeroportos brasileiros que causaram sérios danos físicos e morais a seus usuários, recomendou-se “relaxa e goza”’. A violência é tolerada e associada ao sexo nas duas frases, ainda que de forma velada na segunda.

Marta Suplicy amadureceu, conforme suas próprias palavras, e, segundo nossa modesta observação à distância, sublimou sua eventual curiosidade ao se tornar psicóloga e pesquisadora no campo das práticas sexuais humanas. E, como política, posicionou-se como líder de minorias que fogem do padrão Marido-e-Esposa-com-Filhos, em que as atividades sexuais do casal ficariam circunscritas a eles e somente a eles, e os filhos seriam o resultado natural do casamento monogâmico. Como eleitores, portanto, gostaríamos que a candidata Marta Suplicy nos dissesse com clareza a razão de considerar relevante que saibamos se o seu adversário Kassab é casado e tem filhos. A resposta deste foi de que não é homossexual e que muitas mulheres gostariam de se casar com ele.

Não é difícil para nós brasileiros desvendarmos os objetivos políticos da pergunta a partir da resposta dada. É óbvio que Marta conhece a vida particular de Kassab e fez essa pergunta para tirar-lhe votos. E é também óbvio que ele descobriu sua intenção e respondeu-a para não perdê-los. Não existe nenhuma restrição legal que homossexual ou heterossexual, solteiro ou casado, com filhos ou sem filhos, até mesmo fora do casamento, ocupem cargo público, desde que não tenham praticado atos criminosos regulados por lei. E mais: a transgressão de leis, inclusive no campo da sexualidade, tem sido praticada por políticos casados e com filhos. Não são poucos os que se encontram nessas condições e continuam impunes. A explicação para a pergunta de Marta está contida na cabeça de eleitores ignorantes e pré-conceituosos, particularmente no meio inculto.

Não devemos esquecer a tradição cultural da população ignorante, muitas vezes orientada por religiosos fanáticos que consideram o homossexualismo um desvio que impede a pessoa de ser equilibrada, competente e honesta. E isso acontece quase sempre em grotões eleitorais em que os homens se dividem entre machões – incluídos aí os que praticam o homossexualismo ativo – e os homossexuais. Nesta última categoria, somente são considerados os chamados passivos, normalmente conhecidos como efeminados. Basta uma caminhada pela cidade, principalmente em áreas deterioradas física, social e culturalmente, para se cruzar com homens desequilibrados mentalmente, andando com trejeitos de mulheres e sendo objetos de gracejos e agressões de toda espécie.

Marta Suplicy, que chegou a ser aceita como candidata à psicanalista no Instituto de Psicanálise da conceituada Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, deveria utilizar seu conhecimento profissional e sua posição política de vanguarda junto ao Grupo de Gays, Lésbicas e Simpatizantes - GLS para ajudar o desenvolvimento de nosso povo e não utilizá-lo em sua vertente mais retrógrada. Não nos iludamos. Mesmo nesses grotões atrasados, a cultura está chegando e mudando hábitos e costumes rapidamente. Os poucos votos daqueles que acreditarem na insinuação de Marta, e, por isso, deixarem de votar em Kassab, serão ultrapassados pelos que a repudiarão por essa atitude. Não adiantará dizer-lhes “relaxa e goza porque depois das eleições voltarei a ser profissionalmente coerente“ e que “em política somente há vencedor e perdedor”. Isso é verdade, sim. Porém, há atitudes e erros imperdoáveis que podem acabar com a carreira política de quem os comete. Lula já disse na Espanha, como é de seu estilo, que não podia opinar sobre o assunto porque não conhece o teor da propaganda de Marta. E ela, o que dirá? Esperamos que não entre no caminho pedregoso e perigoso do “voyeurismo” sexual a ponto de estimular alguns simpatizantes seus (“aloprados”), a seguirem e perseguirem Kassab, espionando suas atividades e preferências sexuais. Daros