Sunday, January 28, 2007

TELEFÔNICA
Costumo ouvir o Diário da Manhã na Rádio Cultura. Sou obrigado a desligar o aparelho todas as vezes que é apresentada a propaganda institucional da Telefônica sobre seu programa social voltado a crianças e adolescentes, tal a chatice e a longa duração da música e de suas letras repetitivamente apresentadas. Deixo de ouvir boa música e entrevistas interessantes por conta disso. A única diferença com a horrorosa propaganda eleitoral gratuita é que a Telefônica paga o longo tempo utilizado à Rádio Cultura. Muita propaganda, faz-me lembrar da infância em que uma galinha pequena, que também punha ovos minúsculos, cacarejava mais forte e longamente que as outras, despertando risos e chacotas de minha família. Quem sabe algum deputado apresente projeto de lei limitando os gastos em propaganda. No caso de programas sociais, por exemplo, seria estabelecido um percentual máximo do total gasto nesses programas.

Disseram-me que a Companhia Telefônica de São Paulo-TELESP brilha no campeonato de reclamações de usuários de serviços, ocupando o primeiro lugar. No último dia 24, os péssimos serviços dessa empresa estragaram-me o dia. Pela manhã fui ao centro da cidade a fim de comprar um carregador de bateria para meu celular. Aproveitei, também, para pesquisar preços sobre compressores caseiros para pintura. Depois de visitar várias lojas na Florêncio de Abreu, decidi comprá-lo ali mesmo; não antes, porém, de comparar seu preço com o da Le Roy Merlin. Como a bateria do celular estava descarregada, tive de buscar um orelhão para essa consulta telefônica. Comprei um cartão eletrônico com 50 unidades. Após discar várias vezes o serviço de informações gratuito 102, muito ocupado naquele momento, consegui completar a ligação e responder às perguntas de praxe de fita gravada: “telefone comercial ou residencial? etc.”. Foi-me fornecido o número do telefone da MERLIN. Coloquei meu cartão numa ranhura estreita, engendrada para testar nossa paciência. Depois de algumas tentativas frustradas, virando o cartão de um lado para o outro, vibrei com o surgimento do número 50 que me habilitava a comunicar-me. Após toques e mais toques sem resposta ouvi o irritante som de linha ocupada. Tentei novamente e ouvi a surrada e antipática voz gravada: “esse telefone não existe” . Liguei novamente o 102 e consegui um outro número. Colocava o cartão de todos os jeitos possíveis e nada conseguia. Mais algumas tentativas e, finalmente, o aparelho aceitou meu cartão. Antes mesmo do telefone ser atendido, se é que ia ser mesmo, os números que indicavam o crédito do cartão caíram rapidamente de 50 para 49 e 48. Retirei o cartão antes que meu crédito fosse consumido. Desisti dessa ligação para a empresa Le Roy Merlin e segui pelo viaduto Santa Ifigênia em busca do carregador de bateria. Lá entrei numa loja cujo vendedor pegou meu celular e tentou enfiar um pino que não entrava no local previsto para o encaixe. Tirei-lhe da mão o aparelho e retornei para a Florêncio de Abreu, completamente abatido.

Dado o avançado da hora, decidi ligar para minha casa e novamente enfrento um conjunto de três orelhões justapostos dos quais somente um funcionava. Felizmente, meu cartão foi aceito na primeira tentativa, pois apareceu o número 47. O que não esperava é após discar o número ouvir aquela maldita voz dizendo-me: “esse telefone não existe”. Como era o telefone de minha própria residência, pensei que discara o número errado e tentei novamente, pressionando com muita atenção e esmero cada numero. Ao final, ouvi outra vez: “esse telefone não existe” .
Comentei o fato com alguém que esperava a vez para usar o telefone público e, para surpresa minha, numa demonstração de paciência e gentileza, recomendou-me para insistir mais uma vez. Dessa vez o telefone “inexistente” começou a tocar e minha esposa atendeu. Mal comecei a conversar, a ligação caiu. Irritado, ou melhor, irado, voltei à banca de jornal onde comprei o cartão e quis devolvê-lo. Apercebi-me logo do ridículo e limitei-me a perguntar à vendedora a origem do cartão. Informou-me que eram fornecidos diretamente pela Telefônica. - “O senhor foi azarado pois o aparelho que usou deve ser daqueles que comem cartão” , disse-me com a maior naturalidade. Para um estrangeiro, tal explicação soaria como fantasia de uma vendedora acometida de crise mental. Um surto psicótico. Para mim, brasileiro dos velhos tempos, veio à mente lembranças de experiências do passado quando se usavam fichas metálicas ao invés de cartões eletrônicos. Quantas vezes pude constatar a “gula“ dos aparelhos que as engoliam sem dar a chance de se falar. E, em outras ocasiões, sem ficha na mão, dava-se pancadas no aparelho e era-se premiado, como nas atuais máquinas de jogos eletrônicos, com uma enxurrada de fichas devolvidas.

Contei à minha filha mais velha o que acontecera comigo naquela manhã. Ela confortou-me dizendo que isso ocorre com todo mundo. E que “a melhor propaganda da responsabilidade social da Companhia Telefônica seria oferecer bons serviços a seus usuários e não ficar alardeando sua ação social junto a adolescentes e crianças, com aquelas musiquinhas chatérrimas “, disse-me ela. O que será que a ANATEL acha de tudo isso? Será que ali também nada se vê, se sabe ou se escuta?

Friday, January 12, 2007

ACIDENTE EM CONSTRUÇÃO DO METRÔ EM SÃO PAULO
Lembro-me das intensas discussões havidas após o acidente ocorrido na via elevada Paulo de Frontin durante sua construção no Rio de Janeiro, em 1.971. O vão de uns 20-30 metros simplesmente caiu numa rua que o cruzava, destruindo e matando os que se encontravam ali naquele momento. Coincidentemente, passara naquele local, algumas horas antes, daí a marca deixada em minha memória. Naquela época eu era presidente da empresa Transplan-Engenharia e Planejamento de Transportes depois de ter vivido uma extraordinária experiência de trabalho: participei da criação do GEIPOT, em 1964-65, e fui seu economista-chefe até meados de 1.969. Nesse qüinqüênio foram desenvolvidos planos diretores de transportes e definidas políticas nacionais que envolviam aspectos de engenharia, economia e gestão. O Banco Mundial estava profunda e amplamente envolvido nesse processo de modernização dos transportes brasileiros.

"Licitações, somente após ter sido concluído o projeto executivo, que deveria ser o suficientemente detalhado para garantir qualidade às estimativas de custos e às propostas técnicas de execução das empreiteiras”; “ Supervisão da execução do projeto pela própria projetista para evitar descontinuidade de responsabilidade em relação ao projeto aprovado. Alterações no projeto original somente poderiam ser propostas pela projetista às autoridades públicas e o suficientemente justificadas as razões delas”; “Empreiteiras, obviamente, não poderiam ter participação na propriedade e/ou gestão das projetistas das obras a que concorriam”; “As faturas de execução das diferentes etapas das obras teriam de ser aprovadas pela supervisão da empresa projetista, autora do projeto original”. Esses eram alguns dos princípios que deveriam nortear a gestão do desenvolvimento da infra-estrutura de transportes em nosso País. Lembro-me de empreiteira brasileira ter-se revoltado pelo não pagamento de uma fatura sua de grande valor porque não conseguira a aprovação das obras relativas ao sistema que daria sustentação aos taludes de cortes e aterros feitos. Exagerava-se que pela falta de grama (não de grana!) a fatura ficou presa, com a clara intenção de desmoralizar o processo de modernização da gestão pública.

No caso do vão que caiu houve descontinuidade no processo de projetar, executar e supervisionar a execução da obra. No velho estilo brasileiro, a fiscalização pública aceitava mudanças no projeto original sem o consentimento da projetista, normalmente desligada do processo de construção a partir da licitação. Tampouco o projeto executivo que dera origem à licitação era o suficientemente detalhado para evitar contínuas dúvidas alimentadas pelas empreiteiras junto aos órgãos públicos fiscalizadores. Muitas delas válidas, e outras tantas não, pois seu objetivo era o de conduzir a soluções que melhor atendessem a seus interesses comerciais. Quais foram os resultados práticos de sindicâncias e investigações havidas, simplesmente os desconheço, tal a confusão legal e administrativa gerada após o acidente.

O desabamento de parte de futura Estação do Metrô de São Paulo junto à Marginal do Rio Pinheiros, hoje, 12 de janeiro de 2.007, 36 anos após o acidente no Paulo de Frontin, vai por à prova se o processo de concepção, projetação, execução e supervisão da obra do metrô de São Paulo respeitou os princípios supracitados que garantem a continuidade de autoridade e responsabilidade no processo de construção de obras públicas.