Tuesday, December 08, 2009

Zelaya e seu time

No decorrer destes sete anos de mandato do Presidente Lula, nossa diplomacia, tão bem simbolizada pelo Itamaraty, está deixando de ser instrumento de Estado para se tornar aparelho de execução de política externa estabelecida pelo triarquia formada por Lula, Garcia e Amorim. Sempre houve conflito entre linguagem de diplomata e de Presidente. Este, normalmente, com personalidade afirmativa e autoritária, busca realizar os objetivos políticos de seu governo e aquele, sempre aberto ao diálogo e à negociação, tendo em vista os interesses de Estado. O resultado disso está registrado em excelente artigo de Eliane Cantanhêde – Encantados, mas Críticos (Folha, 8/12),transcrito abaixo. Dos casos por ela citados, destacamos a crise hondurenha que todos acompanharam. A linguagem dura de Lula começou com o bordão “não negocio com golpistas” e se mantém na resposta dada ao novo Presidente, já eleito, que deseja vir ao Brasil para conversar com ele: “não reconheço a eleição havida sem Zelaya”. Nós, cidadãos contribuintes, ainda não sabemos se nossa embaixada em Honduras se transformou em hotel, onde ele se hospeda com seu time de 60 membros, ou se é “refúgio, de onde não tem data para sair”, segundo afirma Amorim em entrevista (Folha, 8/10). Na realidade, porém, a embaixada foi transformada em bastião da democracia onde Zelaya mobilizava seus seguidores visando sua volta à presidência para supervisionar o processo eleitoral. Se permanecer na “trincheira brasileira”, pode-se interpretar que seu objetivo agora é tumultuar o restabelecimento do processo democrático em curso naquele País. Como afirmou Amorim na citada entrevista "Se o Brasil não tivesse dado abrigo ao Zelaya, talvez estivesse tudo parado". Nesse caso, usando o linguajar futebolístico, está na hora do Brasil parar o jogo e tirar o time de Zelaya de campo. Seria recomendável, também, que a conta com as despesas feitas até as 12 horas do dia de sua saída com a numerosa equipe fosse entregue por Amorim, pessoalmente, a Chávez para reembolsá-las.


ELIANE CANTANHÊDE - Transcrito da Folha de São Paulo
Encantados, mas críticos

BRASÍLIA - Conversando daqui e dali com diplomatas estrangeiros em Brasília, confirma-se que, sim, os países ricos, pobres e mais ou menos estão encantados com Lula, mas também acham que ele tenta dar passos maiores do que as pernas na política externa.
No caso de Honduras, o mundo todo condenou o golpe, mas o Brasil se coloca como um herói isolado, o bastião da democracia, e agora se recusa a apoiar o resultado das eleições só para testar forças com os EUA na OEA. Soa infantojuvenil.
Em vez de agarrar-se à defesa de um princípio, a democracia, e de um país, Honduras, o Brasil agarra-se a um personagem: Zelaya. Não quer fechar uma página e abrir outra, acatando Porfírio Lobo e arrancando dele compromissos de um governo de pacificação e respeito ao presidente deposto.
No caso do Irã, as opiniões se dividiram entre os que simplesmente rechaçaram o encontro Lula-Ahmadinejad em Brasília e os que entendem a necessidade de integrar o regime iraniano às normas de convivência internacional. Mas ninguém engoliu o Brasil lavar as mãos no voto de censura da ONU ao Irã por causa da questão nuclear, principalmente depois de Lula dizer que a reação dos opositores em Teerã era chororô de "derrotados".
Além disso, a diplomacia instalada em Brasília vê Lula querendo ser o líder sempre, em toda a parte -hoje, na reunião sul-americana em Montevidéu; depois, na Conferência do Clima em Copenhague. Há um exagero, que gera ciúmes e ironias: "Por que ele não se ocupa mais em combater a corrupção no Brasil?", perguntaram-me ontem.
Uns e outros adoraram o vexame de Manaus, onde Lula esperava nove presidentes para brilhar e acabou fazendo Sarkozy atravessar o Atlântico para tomar cafezinho com um único presidente: o da Guiana Inglesa. Em alguns relatórios de embaixadas para suas chancelarias, o relato do episódio resvala para a mais pura chacota.

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