Tuesday, September 08, 2009

UM INIMIGO COMUM?

A leitura do artigo de Eliane Cantanhêde com o título acima (Folha, 8/9/09), transcrito abaixo, trouxe-nos à mente o estilo simplista, ufanista, literário e antiamericano que predominava antes da entrada de Marx na mente dos brasileiros. O que torna um País “independente” – palavra difícil de ser empregada em mundo globalizado - são a estrutura, o tamanho e a sofisticação tecnológica de seu processo produtivo e a qualidade de sua população e instituições. O Brasil precisa, antes de tudo, defender-se do poder do tráfico de drogas, da destruição de nosso meio ambiente, da violência interna, da miséria, da ignorância, do sofrimento, da falta de moral e impunidade que estimulam a mentira, a mistificação e a corrupção. O que felizmente já vem acontecendo lentamente apesar da obsolescência de grande parte de nossas instituições públicas. Até agora não foi explicado com clareza, seriedade e objetividade o quê se procura defender e do quê. Sem falar do porquê da França já ter escolhido a empresa brasileira Odebrecht para executar obras no valor de R$ 5 bilhões. Um “pacotaço” desses, como afirma nossa articulista, merece ser aberto, senão por vivermos em país democrático, pelo menos para sentirmos o cheiro gostoso dos perfumes franceses no meio de tanta confusão tropical gerada por disputas eleitorais prematuras.

ELIANE CANTANHÊDE (Folha, 8/9)

Um inimigo comum

Há uma lógica cristalina na definição pelos caças Rafale para renovar a frota da FAB e fechar o pacotaço militar do Brasil de Lula com a França de Sarkozy. Uma lógica não só técnica ou comercial, de compra e venda, mas política. Por trás dos 36 caças, 4 submarinos, 50 helicópteros e tecnologia para construir uma base, um estaleiro e um submarino de propulsão nuclear, por bilhões de euros, há uma decisão geopolítica: a França e o Brasil se unem, não exatamente contra os EUA, mas por um melhor equilíbrio internacional.

Numa comparação doméstica, Colômbia e Peru aprofundam a sua dependência dos EUA, e Venezuela arrasta Equador e Bolívia para os braços da Rússia e do Irã, enquanto o Brasil escapa da polaridade e opta pela França. Os dois são aliados dos EUA, mas não incondicionais, e tentam evitar que os US$ 13 tri de PIB da maior potência definam os destinos do mundo. Nem por isso alimentam o "outro lado".

A França é um país central do mundo rico, um dos mais sofisticados tecnologicamente e o mais político da Europa. E o Brasil é um país continental, com a Amazônia, a Amazônia Azul, mercado crescente e, agora, o pré-sal. Fecha as duas pontas: biocombustíveis e petróleo. Sem falar nas jazidas de urânio, entre as maiores do planeta.Desde o início de 2008, quando Jobim foi à França, à Rússia e aos EUA, ele deixou clara, em inúmeras declarações, a preferência brasileira pelos submarinos e caças franceses. E que, por trás das compras, havia o interesse estratégico.

O Brasil já diversificou seus mercados e, ao fechar o maior pacote militar de sua história, sinaliza ao mundo: França, pelos ricos, e Brasil, pelos emergentes, se movem contra o chamado "mundo unipolar". Ou seja: trabalham para neutralizar a força acachapante dos EUA no pós-Guerra Fria. É mais uma alavanca para a almejada liderança do Brasil nesse novo mundo.

elianec@uol.com.br

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