Friday, November 13, 2015

SUCO DE TRUST


"É caro, mas muito bom. Sem aditivos. É integral. Feito de verdinhas plantadas na Escócia. Altamente confiáveis”.

Foi encontrada na Câmara de Deputados, em Brasília, na mesa de um de nossos representantes, essa propaganda de suco. Pensei se tratar de alguma bebida para emagrecer ou deixar-nos mais forte e saudável. Como TRUST é palavra inglesa, recorri ao Dicionário Macmillan antes de me aventurar a comprar o suco. Encontrei exemplos dessa palavra como substantivo e como verbo:

Substantivo:TRUST “é um arranjo no qual uma pessoa ou organização administra o dinheiro ou propriedade de outra pessoa”;
Como verbo TRUST  “Em políticos simplesmente não se pode 
confiar (to trust)”  

Decifrei a charada, minha gente:

Ora vejam só. As verdinhas são dólares “plantados na Escócia”. Basta entregá-los a uma pessoa ou organização para administrar o dinheiro e depois receber o “suco”, isto é, os rendimentos. Como políticos não merecem confiança, eles buscam se livrar das verdinhas o mais rápido possível. Agora, sem os laranjas, sistema velho conhecido dos policiais no ambiente de "lavanderias de dinheiro sujo" no Brasil, surge impávido e colosso o SUCO TRUST. Acontece que nesse caso quem depositou as verdinhas pode ser identificado pelo TRUST. E aí não tem jeito? Claro que tem! Que tal o TRUST se identificar como operador de um jogo lotérico em que determinada pessoa deposita no TRUST o prêmio a ser ganho por ela mesma? Basta o TRUST mostrar o resultado do falso sorteio havido em data anterior preclusiva, isto é, que o crime já estaria precluso pelo longo período decorrido. Nesse caso, o beneficiado se torna premiado por "dinheiro limpo" pago por ele mesmo com "dinheiro sujo" em data pregressa ao sorteio. Lembram-se de um deputado federal no passado que foi premiado várias vezes? Ele provou assim a origem do dinheiro, numa operação de lavagem perfeita ao estilo brasileiro. Ele simplesmente comprava bilhetes premiados com ágio para lavar seu rico dinheirinho. Será que agora estamos diante de versão escocesa de lavagem de dinheiro por meio de prêmios de sorteios? Ou a do ilusionismo da negação já aplicada por um político brasileiro conhecido: repetir como um mantra indiano tantas vezes quanto forem necessárias. Primeira etapa - "não tenho conta ou dinheiro no exterior"; descoberta a conta: "o dinheiro não é meu"; identificado seu nome: "deve ser de homônimo para me prejudicar"
No Brasil a negação repetitiva de populistas e demagogos funciona, seja porque o povo é ignorante ou porque uma parte substancial de nossa população não liga que o político seja ladrão. Nos anos 50, houve até um político famoso cujo lema era "ROUBA MAS FAZ". Os seus eleitores, quando criticados pela sua escolha absurda de um criminoso, respondiam:"prefiro um ladrão que realiza obras e apresenta resultados positivos, do que um ou outro ladrão que nada faz por mim." Em outras palavras, entre um ladrão que nada faz e outro que é eficiente, prefere-se o que "ROUBA MAS FAZ".   
                                            fim

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