Sunday, November 01, 2015

LULA E DILMA

A FICÇÃO

Ele conseguiu sair com R$ 100,00 para atender as necessidades urgentes de alimentação e saúde de sua família. No caminho, parou num bar e acabou vendo um jogo da copa mundial de futebol em tela gigante.  Ficou encantado com as imagens do estádio, com o canto do hino nacional, as palmas e os gritos de guerra da torcida; e, também, ninguém é de ferro, com as cervejinhas geladas que bebeu com velhos e novos amigos.  Para não chegar atrasado em casa, conseguiu carona no carro zero de seu amigo operário até o supermercado. Levou um susto quando pôs a mão no bolso e encontrou somente duas notas amarrotadas de dez reais cada uma. Já no supermercado, foi surpreendido por tiroteio e explosão de caixa eletrônico. Aproveitou-se da situação e retirou das prateleiras o que pôde. Na confusão, levou um tiro e se esparramou no asfalto no meio de sangue e leite derramados, pães e outros alimentos básicos que levaria para sua família. Fotografado, apareceu na mídia. Tornou-se Pai-Herói depois das entrevistas feitas com membros de sua família que relataram sua luta diária para mantê-los alimentados.

A REALIDADE

Lula se tornou pai dos brasileiros pobres graças ao Bolsa-Família. Depois de oito anos, ele entregou à Dilma a administração da casa. Em 2014, monitorou o governo de Dilma na gastança com a Copa do Mundo e as futuras Olimpíadas; na redução de impostos no preço dos automóveis; nos juros subsidiados; e nos empréstimos do BNDES a países sul-americanos e africanos.
Em seu governo, Lula inaugurou o programa de juros subsidiados para empreiteiros e empresários e, fora do governo, saiu pelo mundo, vendendo serviços e obras de seus protegidos. Manteve, portanto, sua missão também de papai de empreiteiros e empresários. Na sombra de sua afilhada Dilma e encostado no BNDES, desinibiu-se de vez, a ponto de se tornar palestrante e lobista de grande sucesso. Não se esqueceu, porém, de justificar suas novas e lucrativas atividades como de interesse do Brasil. Assim, Lula, consolidou sua posição de pai dos brasileiros abastados ao incluir sua família, também, nesse grupo. Apesar disso, quando discursa contra as elites, ninguém duvida que ele continua encarnando também, o velho papel de pai dos pobres. Enfim, tornou-se político à brasileira que, ao contrário de muitos colegas seus, não tem pudor de afirmar que é fã da metamorfose ambulante de Raúl Seixas, meio século depois de seu sucesso musical durante a ditadura militar. É bom lembrar que Lula aproveitou-se da condição de protetor de ricos empreiteiros para ajudar, ainda que indiretamente, canalizar propinas a políticos da “coligação”, incluindo, obviamente, seu próprio partido.
Em 2018, finalmente, planeja sair da sombra de Dilma novamente como Presidente. De preferência, sem sustos e com muita alegria de seu povo. Na última hora, porém, segundo discurso recente do próprio Lula, faltou dinheiro do TESOURO para o bolsa-família. É óbvio que se há dinheiro para tudo, nem pensar em faltar para os pobres que o apoiam cegamente.  Dilma bagunçou as finanças do País e deixou Lula exposto à execração pública, obrigando-o a enfrentar o mensalão, o lava-jato, a operação zelote e outros que tais, além de desemprego, inflação e recessão, a ponto de tirar-lhe a alegria do bem viver ao ameaçar seu sonho de retornar à presidência. O pesadelo de cadeia para todos está se tornando real ao incluir corruptores que soltaram a língua para se beneficiarem pela Lei de delação premiada. É tempo de bonança para escritórios de advocacia. E inferno para os delatados.
Lula, com sua proverbial capacidade de gerar metáforas e raciocínios falsos, porém de larga aceitação como verdadeiros por seus eleitores, tornou Dilma o símbolo da Mãe-Heroína por desobedecer a lei de responsabilidade fiscal ao decidir que a Caixa Econômica Federal pagasse o bolsa-família com seus recursos e se tornasse credora do Tesouro do valor gasto. Em outras palavras, seu governo recebeu um empréstimo forçado de instituição controlada pelo Governo Federal, operação vetada por Lei.
Para os juristas, o Pai-herói da FICÇÃO relatada acima é um simples ladrão de supermercado que furtou bens que não lhe pertenciam após assalto com explosão de caixa-eletrônico cujos responsáveis escaparam ilesos. Ele pagou com a própria vida seu pequeno furto. Assunto resolvido e encerrado em primeira instância. Causa mortis: morto em assalto.

O caso de Dilma, ao contrário, foi transformado por Lula em ato corajoso pela ardilosa associação do pequeno e inexpressivo gasto no bolsa-família – pequeno, diante da gigantesca farra financeira havida, obviamente - como a razão principal que levou Dilma a infringir a lei de responsabilidade fiscal. O ato de desrespeitar essa lei deixou de ser encarado como criminoso, tornando-se decisão política de conteúdo social a ser considerada como questão de Alta Indagação pelos juristas de plantão. Se Lula diz que o desrespeito à lei de responsabilidade deu-se para pagar o bolsa-família e Dilma afirma e repete que jamais utilizou dinheiro público desviado para seu proveito, que é uma presidente impoluta com caráter sem jaça e dotada de espírito de solidariedade ao reduzir seu próprio salário em 10%, pergunta-se: "ela é ou não é a mãe dos brasileiros pobres?" Fica provado para Lula e seus seguidores, portanto, que ninguém está mais qualificada que Dilma para cuidar das necessidades dos pobres e de manter longe da presidência a sujeira que afoga a classe política brasileira. A dupla do Pai dos pobres, agora encarnado por um empresário idoso e de sucesso chamado Lula, e de Dilma, a Mãe-heroína, "fará o que tem de ser feito em nosso País, pondo-o de volta nos trilhos, - retirado por ela, diga-se de passagem, - com desenvolvimento e emprego, sem corrupção e sem inflação, pois temos dólares para enfrentar o que virá por aí", dirá Lula. Levy e agência de riscos, a esta altura, já eram, segundo sua vontade. 


A Ficção que se torna Realidade 

A ficção é na realidade  um MODELO,  uma espécie de aplicativo para a mídia, em que basta injetar nomes desconhecidos de gente simples, de carne e osso, para torná-lo a essência das narrações dos noticiários diários que nos atormentam e abatem profundamente. É assim que estamos hoje vivendo: sobressaltados e com muito medo da violência que nos cerca. É nossa realidade. Concreta e vivida. Palpável e ensaguentada.

A Realidade que se Torna Ficção 

A realidade política, porém, é uma sucessão de pesadelos sem fim gerados por monstros intocáveis, produzidos por mentes doentias que controlam o poder e o dinheiro. Não se sabe quando eles começam e muito menos quando eles terminam. Seus efeitos danosos se processam indiretamente e defasados no tempo a ponto de serem esquecidos os culpados, se é que foram julgados. No final, os pesadelos tornam-se estórias. Ficção. 

Final Desejado

Tudo indica, porém, que a farsa e a farra de seus atores podem acabar por meio de ações legais e democraticamente concebidas e executadas. Isso depende, porém, de nossa atitude de cidadão, respondendo com firmeza, competência e sabedoria às perguntas seguintes e agindo à altura de nossa indignação:

I - Até quando permitiremos que o dinheiro público continue sendo mal administrado, e que mentira, demagogia e mistificação prevaleçam e destruam nosso caminho para o desenvolvimento social e econômico?

II - Até quando juízes terão o direito de levar anos e mais anos no julgamento de recursos, agravos, petições e outros instrumentos processuais que propiciem manobras jurídicas infindáveis dos advogados de defesa de crimes praticados por notórios membros da elite política e empresarial a ponto de torná-los de fato impunes, seja por preclusão, seja por exagerado alívio da pena?

III  Até quando, continuaremos calados frente à falta de caráter, incompetência e má fé de muitos profissionais egressos de universidades e instituições de ensino superior tradicionais?  E permitiremos que se criem novas instituições que diplomem pessoas sem ética e competência para contribuírem para o desenvolvimento do Brasil e o bem estar de sua população?


São Paulo, 21/10/2015   

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