Saturday, July 17, 2010

“As prioridades são outras”

É com essa frase que Fernando Rodrigues conclui seu excelente artigo “Tiro no Peito” (leia abaixo) ao se referir à insensibilidade de nossos candidatos ao sofrimento de nosso povo diante da violência que prevalece em nosso País. O consumo e comércio permissivos de álcool e drogas, associados ou não a assaltos, seqüestros, acidentes de trânsito, bem como repressão com balas perdidas, são responsáveis por mortes violentas e pelo clima de guerra que prevalece em nossas cidades. Quais são os planos dos candidatos à Presidência no combate à violência e na garantia da segurança do cidadão e da cidadã brasileiros, hoje acuados, especialmente os mais frágeis, como as mulheres que se auto-impuseram toque de recolher à noite na maioria de nossas cidades? Esta é a hora deles apresentarem e discutirem seu planos de governo de combate à violência, caso a doença política do não ver, ouvir e sentir, já não os tenha atingido.


FERNANDO RODRIGUES (Extraído da Folha de S. Paulo, 17/07)

Tiro no peito

BRASÍLIA - Wesley Rodrigues de Oliveira tinha 11 anos. Foi atingido no peito por uma bala perdida por volta de 8h30 de ontem. Estava em sua carteira, assistindo a uma aula num Ciep (Centro Integrado de Educação Pública) de Costa Barros, subúrbio do Rio. Wesley morreu.
Uma equipe de 120 policiais militares fazia uma operação nas favelas da Quitanda, da Lagartixa e da Pedreira, todas perto do Ciep. Um comandante foi exonerado. A PM prometeu "rigor na apuração".
Essa tragédia em breve se transformará em mais um número nas estatísticas de violência. Mas serve para demonstrar como há uma distância entre a política e a vida real. Até o início da noite, não havia manifestação oficial dos dois principais pré-candidatos a presidente.
José Serra (PSDB) deu entrevistas em Pernambuco. Falou em "peitar a reforma política". Dilma Rousseff passou o dia se preparando para um comício programado para ontem à noite, no Rio.
Dilma tem se comunicado com a sociedade por meio de notas ocasionais publicadas no microblog Twitter. Seus "tweets" mais recentes recomendam um curioso "Dilma boy" e comentam a chuva de ontem no Rio. "Vamos lá", disse a petista referindo-se a uma frase do presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra: "Chuva danada. Mas o carioca vai mostrar que é Dilma até debaixo d'água".
Enquanto os dois principais candidatos a presidente silenciavam sobre o drama vivido pela família do menino Wesley, moradores protestavam queimando pneus e bloqueando uma avenida.
Dilma, Serra e políticos em geral não estão obrigados, por óbvio, a comentar cada caso de bala perdida. Mas o triste episódio de um menino de 11 anos atingido quando estudava dentro de sua escola expressa uma realidade difícil de evitar. Exceto para políticos em campanha. As prioridades são outras.
FIM

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